CT Jovem

O Rios de Experiência tem como objetivo compartilhar histórias inspiradoras de associados da ABRHidro. Nessa campanha, publicada no Instagram da CT Jovem no formato de entrevistas, são abordados temas como associativismo, trajetórias acadêmicas e profissionais, experiências internacionais e atuação em projetos de pesquisa.

Trajetória na pesquisa e os desafios da gestão dos recursos hídricos

Convidado: Professor Daniel Detzel

1. Poderia descrever brevemente o seu projeto de doutorado e quais foram os principais desafios enfrentados

No meu doutorado trabalhei com a modelagem multivariada de séries de vazões em postos hidrométricos da bacia do rio Iguaçu. Utilizei dois modelos estocásticos com premissas diferentes para obter cenários sintéticos de vazão. O principal modelo que eu quis trabalhar segue a premissa de que a persistência inerente às vazões (isto é, a dependência temporal entre os registros sucessivos da série) é o parâmetro mais importante a ser preservado. É um modelo dito de longa memória e tem suas origens nos trabalhos de um engenheiro inglês chamado H. E. Hurst, responsável pelo projeto da barragem de Assuã, no rio Nilo.

Os achados dele fizeram surgir o fenômeno de Hurst, que ficou muito popular entre as décadas de 1960 e 1980. O fenômeno era devido a uma diferença entre o que a teoria previa e o que os dados do rio Nilo mostravam. Isso me fascinou (e ainda fascina!) e foi determinante para eu seguir o caminho que escolhi. O outro modelo é mais convencional e serviu de benchmark para comparação dos resultados.

2. Poderia descrever brevemente o seu projeto de doutorado e quais foram os principais desafios enfrentados

Os desafios foram muitos (como em todo doutorado), mas posso dividir em partes: no âmbito técnico, enfrentei problemas para escrever os códigos dos modelos. Ambos eu precisei implementar do zero, o que me ocupou muito tempo e momentos de frustração (aka ódio) quando os modelos não rodavam. No âmbito profissional, os desafios foram conciliar o doutorado com meu trabalho à época; eu era pesquisador em um instituto, então precisava das noites para conseguir desenvolver o doutorado.

Por fim, no âmbito pessoal fica sempre a constante pressão por criar algo original. Isso traz uma carga emocional muito grande até o momento da defesa, pois só após a avaliação da banca eu tive confiança suficiente de que produzi algo novo. Além disso, meu filho nasceu durante o primeiro ano do doutorado, então sou testemunha de como a privação de sono pode nos afetar. Mas o importante é que deu tudo certo :)

3. Há algum projeto ou pesquisa em recursos hídricos que tenha marcado especialmente sua trajetória?

Sim. Na verdade, foram dois projetos em sequência que me direcionaram para a área na qual atuo. O primeiro foi o "PHOENIX - Otimização do despacho hidrotérmico mediante algoritmos híbridos com computação de alto desempenho" e o segundo o "LYNX - Otimização em Larga Escala Aplicada ao Despacho Hidrotérmico Brasileiro: Modelos Hierárquicos de Operação e Planejamento em Médio e Curto Prazos com Integração de Energia e Potência". Ambos tratam do planejamento e da operação das usinas hidrelétricas brasileiras, em coordenação com as demais fontes.

Eu trabalhei em ambos como hidrólogo responsável pela geração de cenários sintéticos de vazões afluentes aos reservatórios (a ideia do meu doutorado saiu deles). O objetivo principal era de avaliar as incertezas na tomada de decisão sobre qual usina deve, ou não, usar a água armazenada em seu reservatório para gerar energia e quando isso deve ser feito. Foram projetos grandes e que reuniram cerca de 60 pesquisadores de diversas áreas, instituições e concessionárias de geração de energia.

4. Há algum projeto ou pesquisa em recursos hídricos que tenha marcado especialmente sua trajetória?

Talvez, a principal razão pela qual eles foram importantes na minha trajetória foi por dar sentido prático a uma aplicação de cunho teórico com forte base estatística e estocástica. Da mesma forma, os projetos me introduziram à complexa área dos estudos energéticos brasileiros e me mostraram que, desde a construção de usinas hidrelétricas até a venda de sua energia em leilões, tudo está condicionado aos recursos hídricos.

Isso evidenciou a importância que a hidrologia tem em um dos grandes setores da sociedade. Posso destacar também o compartilhamento de conhecimento e as parcerias entre pesquisadores das diferentes áreas e níveis de carreiras. Isso foi muito rico na construção da minha própria carreira.

5. Na sua opinião, quais são os principais desafios atuais na gestão e conservação da água, e como os jovens podem se envolver ativamente para ajudar a superá-los?

Esse é um bom ponto. Eu acredito que há muitos desafios técnicos relacionados à conservação da água, porém temos pesquisadores e pesquisadoras com grande capacidade de estudá-los e propor soluções viáveis. Por outro lado, entendo que é na gestão que os verdadeiros desafios estão. Em particular, a efetivação de diretrizes para usos múltiplos dos recursos hídricos é algo que precisa de avanços.

Infelizmente há uma divisão muito evidente entre diferentes setores produtivos usuários de recursos hídricos. Setor elétrico dificilmente conversa com setor agropecuário, que dificilmente conversa com setor de saneamento e por aí vai. Há algumas décadas o Brasil tinha certa folga na disponibilidade hídrica, seja nos rios ou nos reservatórios.

Contudo os crescimentos econômico e populacional, acompanhados pela evolução na consciência ambiental, sobrecarregaram os reservatórios existentes. Como agravante, as mudanças climáticas estão trazendo ainda mais restrições e importantes questões de segurança hídrica. Por isso, entendo que os maiores desafios da nossa área estão ligados a isso.

Os jovens podem ter envolvimento direto em todas as questões que coloquei. Acredito que durante as suas formações, cada indivíduo naturalmente tenderá a trabalhar em problemas específicos ligados aos recursos hídricos. Por si só, isso já é uma contribuição relevante.

Mas, entendo que o engajamento de vocês em grupos de pesquisa diversos, iniciativas como a própria CT Jovem e, por consequência a comunidade da ABRHidro, eventos científicos, grupos de extensão nas universidades etc., ajudam a ter uma visão um pouco mais ampla da complexidade da nossa área.

6. Mensagem final aos jovens sobre as habilidades, tecnologias ou metodologias para se destacar na área de recursos hídricos.

Da parte mais metodológica, vou vender um pouco do meu peixe... Acredito que uma base estatística forte é fundamental para qualquer um na nossa área. Explico: lidamos com fenômenos naturais que têm uma grande parcela de incerteza. Para que nossos projetos tenham êxito, é essencial que saibamos trabalhar com essas incertezas e é nesse ponto que a estatística nos oferece um ferramental bastante vasto e aplicável.

Porém, a principal mensagem é um pouco mais filosófica, talvez. Eu sempre sugiro aos meus alunos e orientados que tenham uma mente aberta para novas técnicas, novas áreas, novas aplicações etc.

É evidente que costumamos ter afinidade com uma ou outra temática, mas isso não significa que devemos excluir as que não nos agrada. A busca por uma visão holística dentro dos recursos hídricos é algo que devemos batalhar para conseguir ter e manter.

A água é multidisciplinar, portanto, essa visão do todo é altamente desejável. Assistam bancas de colegas que trabalham em áreas diferentes das suas, cursem disciplinas distintas, leiam livros em áreas distintas. A diversidade é extremamente importante na formação de todos.

Marcos de Liderança e Inspiração para Jovens

Convidada: Professora Suzana Montenegro

1. Quais foram os principais objetivos estabelecidos para o seu biênio na presidência da ABRHidro, e quais já foram alcançados?

No biênio de nossa gestão traçamos metas de uma gestão efetivamente participativa com a integração de todos os membros da diretoria e também buscando o fortalecimento das CTs e Representações Regionais. Isso foi plenamente atingido. Inclusive criamos mecanismos efetivos de participação de toda a comunidade ABRHidro na proposição de sessões para o SBRH. 

Além disso, reforçamos e criamos mecanismos efetivos de transparência na gestão da ABRHidro.

Um destaque especial foi dado também a buscar maior integração com a CT JOVEM e estimular o protagonismo dos jovens pesquisadores na nossa Associação.

Também buscamos integrar mais a ABRHIDRO com os demais entes do SINGRH. E isso foi alcançado com participação efetiva da diretoria em fóruns de órgãos gestores das Águas (FNOGA) e de Comitês de Bacias Hidrográficas, através do ENCOB (Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas). Além da participação no CNRH e nas suas Câmaras Técnicas. 

A participação da diretoria na reunião anual da SBPC também foi um marco para a ABRHidro, com a promoção e realização de uma mesa redonda temática. Também buscamos o fortalecimento da integração com nossas associações co- irmãs, a ABES e a ABAS, e da APRH.  Ainda, buscamos fortalecer as parcerias internacionais e participamos ativamente da realização do Forum Latino Americano da Água (FLAA) e da criação do Conselho Latino Americano da Água (CLAA). Além da valorização da ABRHidro do Conselho Mundial da Água (WWC). Também buscamos o fortalecimento da integração com o MCTI, buscando melhor gestão do CT- HIDRO. Investimos intensamente em estratégias de comunicação, principalmente digital.

2. Durante sua gestão, como a ABRHidro se aproximou de jovens profissionais e estudantes? Alguma estratégia específica foi aplicada?

Buscamos efetivamente trazer jovens profissionais e lideranças com reuniões e construções coletivas de estratégias com a CT- JOVEM e fomentar a sua participação em eventos diversos da ABRHidro, bem como outros como o ENCOB.

3. Quais projetos ou questões você acredita que serão mais desafiadores para os próximos líderes da ABRHidro?

Acredito que os desafios consistem em fazer a ABRHidro cada vez mais presente e atuante no SINGRH e não apenas na academia. Além de continuar promovendo o fortalecimento e protagonismo de todas as CTs. Acho que devemos também estabelecer estratégias efetivas de capacitações, para entes públicos e privados. E ainda estratégias de popularização da ciência.

Celebrando a Diversidade Brasileira em Recursos Hídricos: ProfÁgua/UEMS

Convidada: Fabiola Teixeira

1. O que motivou você a escolher o Programa de Pós-Graduação da sua instituição e ingressar na área de recursos hídricos?

Sou formada em Engenharia Civil, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, trabalhei por 12 anos na área de projetos rodoviários e na execução de sinalização viária. Trabalhava na empresa de minha família, que além da área rodoviária, também exercia a parte de licenciamento ambiental, a qual de vez em quando prestava alguma assistência, mas não era ligada direta a esse setor. Após esse período quis buscar novos desafio e migrei da iniciativa privada para o poder público, na Prefeitura Municipal de Campo Grande.

Na prefeitura entrei como engenheira orçamentista, mas sempre tive a oportunidade de participar de projetos considerados de grande relevância pelo município e comecei a ter algum contato com projetos que envolviam a necessidade de estudos ambientais. Foi quando no início de 2024 recebi a notícia que a UEMS – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul estava iniciando a nova turma do ProfÁgua, na área de gestão de recursos hídricos. Vi então uma oportunidade de me aprofundar em um assunto que já me interessava e quem sabe abrir novas possibilidades na minha carreira.

2. Quais são os principais objetivos do seu projeto de pesquisa e como contribui para a gestão e sustentabilidade dos recursos hídricos?

Meu projeto de pesquisa tem por objetivo recuperar as Áreas de Preservação Permanente do Córrego Lageado, importante córrego do município de Campo Grande, que atualmente, no trecho do estudo, está com ocupações irregulares, contribuindo para a degradação do mesmo. O intuito da pesquisa é fazer um diagnóstico da situação atual e propor como solução o reassentamento dessas pessoas e a implantação de um parque linear.

Em Campo Grande há diversos casos de parques lineares e o intuito é aproximar a população dessas áreas, induzindo a sensibilização ambiental a essas pessoas, promovendo a preservação e impedindo que ocorram novas ocupações irregulares, permitindo que a Área de Preservação Permanente do local seja restaurada.

Ao promover essa recuperação do córrego que é um contribuinte do rio Anhanduí, principal curso d’água de Campo Grande, será possível restaurar o equilíbrio dos recursos hídricos não só do ponto de vista pontual, mas de toda a bacia, que é a Bacia do Rio Pardo, grande contribuinte do Rio Paraná.

3. Na sua visão, quais são os diferenciais e pontos fortes do Programa de Pós-Graduação da sua instituição que podem atrair jovens estudantes e profissionais?

Por ser um Mestrado Profissional, acredito que seja mais atrativo para quem já está no mercado de trabalho poder conciliar o estudo com a profissão que já exerce. É também uma excelente oportunidade de serem realizadas trocas profissionais com outros alunos do programa.

Além disso, por ser um programa que recebe profissionais das mais diversas áreas de atuação, é possível enxergar como o tema de Gestão e Regulação Hídrica pode ser aplicado nas mais diversas profissões, englobando todas as áreas de conhecimento de exatas, humanas e biológicas.

4. Como a sua experiência no programa tem contribuído para sua formação acadêmica e profissional? Algum momento marcante que gostaria de compartilhar?

Ao ingressar no programa de mestrado estava há bastante tempo afastada dos estudos e pude ver como o sistema de ensino como um todo evoluiu muito nos 14 anos que estava longe da universidade.  E juntamente a isso pude trazer para a vida profissional melhoria na escrita dos documentos que realizo e ferramentas de pesquisa mais eficientes.

Também comecei a enxergar de maneira mais ampla a ligação não só da gestão dos recursos hídricos, mas do meio ambiente como um todo, com os projetos que me relaciono na minha profissão.

O momento mais marcante talvez tenha sido no encerramento do semestre que fizemos uma viagem de campo para apresentar o andamento de nossas pesquisas e conhecer o campus do município de Aquidauana.

Tivemos contato com diversos profissionais e pudemos conhecer estudos que estão sendo desenvolvidos focando no desenvolvimento sustentável do Estado de Mato Grosso do Sul. Foi enriquecedor saber que o desenvolvimento do Estado hoje não é só focado em aumento de ganhos e sim também na garantia da continuidade e da preservação para as futuras gerações.

5. Qual mensagem você deixaria para jovens interessados em ingressar na área de recursos hídricos e explorar as oportunidades da pós-graduação?

Acho que o mais importante é dizer que a educação que nos faz crescer e desenvolver, individualmente, e como sociedade.

Nosso futuro como país depende que profissionais se capacitem para entender as melhores maneiras de seguir desenvolvendo e crescendo, sem esgotar nossos recursos naturais, que são sim, finitos.

Jornada Científica: World's Top 2% Scientists

Convidado: Professor Iran Lima Neto

1. Reconhecimentos e Impacto: O que representa para você estar entre os World's Top 2% Scientists e ser homenageado entre os 25 pesquisadores mais influentes da UFC? Quais foram os principais desafios e aprendizados que o levaram a essas conquistas?

Primeiramente, gostaria de agradecer à CT Jovem da ABRHidro pela oportunidade de poder contar um pouco da nossa trajetória. Certamente é uma honra enorme fazer parte desse grupo seleto de pesquisadores. No entanto, gostaria de compartilhar a conquista com os meus familiares, alunos e colegas. Sou privilegiado por tê-los ao longo dessa jornada. O principal desafio foi manter a motivação mesmo em épocas de escassez de recursos para pesquisa. O principal aprendizado foi que a pesquisa colaborativa e o esforço contínuo sempre gerarão bons resultados em algum momento.

2. Inspiração para Jovens Pesquisadores: Que conselhos você daria para jovens pesquisadores que estão iniciando suas trajetórias acadêmicas e desejam trilhar um caminho significativo na ciência?

Escolham uma área que vocês realmente gostem e interajam o máximo que puderem com os colegas, professores e profissionais da área. A pesquisa básica é primordial, mas na área de recursos hídricos, é muito importante dar um retorno à sociedade. 

3. Parcerias e Pesquisa Aplicada: Como suas colaborações com órgãos como ANA, COGERH e CAGECE ajudaram a transformar pesquisa acadêmica em soluções práticas para os desafios dos recursos hídricos no Brasil?

Nossas pesquisas têm como objetivo principal integrar a gestão quanti e qualitativa dos recursos hídricos. Nesse sentido, temos desenvolvido ferramentas que estão sendo utilizadas para avaliar o impacto da variabilidade hidroclimática e de atividades antrópicas na hidrodinâmica e qualidade das águas interiores, urbanas e costeiras.    

4. Motivação e Futuro: O que mais o motiva em sua carreira atualmente, e quais são os próximos passos ou projetos que o entusiasmam?

No Brasil, pretendo ampliar as parcerias com colegas de outras regiões para avaliarmos quais serão as respostas dos sistemas hídricos às mudanças climáticas, que já estamos vivenciando, e à universalização do saneamento básico, prevista para acontecer ao longo dos próximos anos. No exterior, pretendo intensificar o intercâmbio de alunos e colegas para além da América do Norte e Europa. Temos encontrado excelentes parceiros em outras regiões do planeta, com problemas de pesquisa semelhantes e com muito interesse em colaborar. 

Celebrando a Diversidade Brasileira em Recursos Hídricos: PPGEA/UFES

Convidado: Lizandra Broseghini Föeger

1. O que motivou você a escolher o Programa de Pós-Graduação da sua instituição e ingressar na área de recursos hídricos?

Desde a minha graduação em engenharia sanitária e ambiental os temas relacionados aos recursos hídricos sempre foram aqueles que mais despertavam meu interesse, principalmente hidrologia e disciplinas que envolviam modelagem computacional. Vi na pós-graduação a oportunidade de aprimorar minhas habilidades e desenvolver estudos nessa área. Foi aí que começou minha relação, mais precisamente com a modelagem de sedimentos. Do mestrado, com grande apoio do meu orientador, optei por ingressar diretamente no doutorado para dar continuidade à minha pesquisa.

2. Quais são os principais objetivos do seu projeto de pesquisa e como contribui para a gestão e sustentabilidade dos recursos hídricos?

O objetivo geral do meu projeto consiste na avaliação dos impactos causados pelas mudanças climáticas e efeitos dos reservatórios no fluxo de sedimentos da bacia amazônica. O aumento de eventos extremos (chuvas intensas e longos períodos de seca) altera o transporte e o depósito de sedimentos, comprometendo a qualidade da água e a disponibilidade hídrica para consumo, irrigação e geração de energia, além de afetar as populações vulneráveis. Monitorar e modelar os impactos das mudanças climáticas e dos reservatórios sobre o regime de sedimentos se faz necessário para embasar políticas de uso sustentável dos recursos hídricos.

3. Na sua visão, quais são os diferenciais e pontos fortes do Programa de Pós-Graduação da sua instituição que podem atrair jovens estudantes e profissionais?

O Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA) da Ufes possui diversas linhas de pesquisas voltadas para as diversas áreas da engenharia ambiental, como saneamento, poluição atmosférica, resíduos sólidos, gestão de recursos hídricos entre outras. O diferencial é poder estar em contato com os professores de variadas áreas, conhecer outros alunos por meio de disciplinas em comum e expandir a sua rede inclusive em outros programas da Universidade. O PPGEA também sempre divulga oportunidades de estudo no exterior e eventos da área para os alunos.

4. Como a sua experiência no programa tem contribuído para sua formação acadêmica e profissional? Algum momento marcante que gostaria de compartilhar?

No início dos meus estudos no mestrado, eu me questionava muito se poderia aplicar aqueles conhecimentos na prática algum dia, e de fato o momento veio! A qualificação acadêmica adquirida na pós-graduação certamente me abriu muitas portas, de modo que já atuei na administração pública, no setor de saneamento ambiental, e hoje em dia, graças a minha formação específica e habilidades adquiridas principalmente no campo dos estudos e modelagem de sedimentos, sou colaboradora na Reparação da Bacia do Rio Doce (Fundação Renova), participando principalmente no desenvolvimento de projetos e estudos na área de hidrossedimentologia, hidrologia, hidráulica fluvial, qualidade da água, legislação ambiental e gestão ambiental.

5. Qual mensagem você deixaria para jovens interessados em ingressar na área de recursos hídricos e explorar as oportunidades da pós-graduação?

Embora fazer pesquisa no Brasil seja desafiador, trabalhar em temas pelos quais temos verdadeira afinidade é extremamente gratificante. Quando isso se converte em oportunidades no mercado de trabalho, a realização se torna ainda maior. Aproveite ao máximo a chance de construir conexões durante a pós-graduação, seja com colegas, professores, ou até mesmo com profissionais de outras instituições. Participar de eventos da área, compartilhar suas ideias e apresentar seus projetos também é uma forma valiosa de ampliar sua rede de contatos. Lembre-se: sempre haverá pessoas interessadas no que você desenvolve e que podem se tornar uma base de apoio essencial no avanço da sua pesquisa.

Celebrando a Diversidade Brasileira em Recursos Hídricos: PPGCAM

Convidado: Filipe Carvalho

1. O que motivou você a escolher o Programa de Pós-Graduação da sua instituição e ingressar na área de recursos hídricos?

A área de recursos hídricos sempre me fascinou ao longo da graduação, tanto pela sua importância quanto pela complexidade de estudar e gerir a água em seus diferentes níveis (superficial, subterrânea, atmosférica). No entanto, a decisão final de me especializar nessa área ocorreu durante a disciplina de Hidrologia. Foi nesse momento que tive meu primeiro contato prático com equipamentos de monitoramento, trabalhei com dados e casos reais e participei do meu primeiro projeto na universidade: a construção de um pluviógrafo. Coincidentemente, o professor responsável por essa disciplina tornou-se meu orientador no TCC, no Mestrado e, atualmente, no Doutorado. Ele foi um dos grandes incentivadores de todo esse processo.

A escolha do Programa de Pós-Graduação da UFPB não foi muito difícil. O PPGECAM é uma referência na área, contando com professores renomados, laboratórios modernos e equipamentos de última geração. Somando esses fatores ao fato de já residir em João Pessoa, a decisão de tentar o mestrado aqui foi natural e estratégica.

2. Quais são os principais objetivos do seu projeto de pesquisa e como contribui para a gestão e sustentabilidade dos recursos hídricos?

O meu projeto de pesquisa tem como principal objetivo o desenvolvimento de um sistema automatizado de controle de qualidade para dados de precipitação em diferentes resoluções temporais. Esse sistema permitirá identificar com precisão os problemas em cada estação de monitoramento e, ao final do processamento, gerar um conjunto de dados confiáveis e um diagnóstico detalhado da rede de monitoramento. Esse diagnóstico é crucial para que os órgãos gestores possam otimizar a alocação de recursos, seja para manutenção, limpeza ou ajustes nas estações.

Além disso, o projeto inclui a correção de erros nos dados das estações, ampliando a disponibilidade temporal e espacial de informações pluviométricas do Brasil. Isso ajuda a superar um dos maiores desafios da área: a escassez de dados de chuva que tenham passado por um controle de qualidade robusto, especialmente em resoluções sub-horárias. Dados consistentes são a base para estudos mais confiáveis, e a partir deles é possível construir uma gestão mais eficiente e sustentável dos recursos hídricos.

3. Na sua visão, quais são os diferenciais e pontos fortes do Programa de Pós-Graduação da sua instituição que podem atrair jovens estudantes e profissionais?

O PPGECAM conta atualmente com uma equipe de professores renomados, com destaque nacional e internacional na área de Recursos Hídricos. O programa possui parcerias estratégicas, tanto nacionais quanto internacionais, além de laboratórios bem equipados. Há o incentivo ao uso de ferramentas atuais, a exemplo de disciplinas como Python e, especialmente, Google Earth Engine, que foram ofertadas por alguns semestres para alunos de todo o Brasil, ampliando o alcance e a relevância do programa.

4. Como a sua experiência no programa tem contribuído para sua formação acadêmica e profissional? Algum momento marcante que gostaria de compartilhar?

Fazer parte do programa e do grupo de pesquisa tem sido fundamental para meu crescimento e reconhecimento profissional, abrindo inúmeras portas e oportunidades. Pude colaborar em estudos de colegas (até mesmo de outras instituições), participar de atividades de campo e integrar projetos de pesquisa multidisciplinares. Recentemente, o grupo ao qual pertenço foi convidado pela Agência Nacional de Águas para realizar um estudo sobre os eventos de precipitação ocorridos em 2024 Rio Grande do Sul, que resultaram em perdas significativas e irreparável. Essas experiências têm contribuído diretamente para o meu crescimento, proporcionando conhecimento técnico, vivência prática e uma ampla rede de contatos profissionais.

5. Qual mensagem você deixaria para jovens interessados em ingressar na área de recursos hídricos e explorar as oportunidades da pós-graduação?

A pós-graduação é um universo repleto de possibilidades. É essencial explorar as áreas de atuação disponíveis, identificar aquela que mais se alinha aos seus interesses e buscar professores e instituições que tenham conexão com o que você deseja estudar e pesquisar. Aproveitem todas as oportunidades que surgirem e busquem atualizar-se de forma contínua. O mundo atual é rápido e dinâmico, e aqueles que não acompanham as novas ferramentas e tecnologias acabam ficando para trás.

Além disso, invista na sua rede de contatos, pois ele é tão importante quanto estudar e se manter atualizado. A combinação de conhecimento e network será o alicerce para o seu crescimento pessoal e profissional.

Planejamento, Economia e Gestão de Recursos Hídricos

Convidada: Professora Samiria Oliveira

1. Quais são os principais desafios na integração de estratégias econômicas ao planejamento e à gestão de recursos hídricos no Brasil?

No geral, os mecanismos precisam ser bem pensados, desenhados e adaptados para a realidade local. Alguns aspectos precisam ser observados e citarei alguns deles; Primeiro, as grandes disparidades econômicas e sociais representam um desafio significativo para aplicar estratégias econômicas de forma equitativa. Enquanto regiões mais desenvolvidas, por exemplo, podem suportar tarifas e mecanismos de compensação, regiões mais pobres e vulneráveis podem enfrentar dificuldades para se adaptar a essas medidas.

Segundo, a implementação de estratégias econômicas, como tarifas de contingência e cobrança pelo uso da água, muitas vezes enfrenta resistência social e política por parte de alguns setores econômicos. A percepção de que a água é um bem gratuito e essencial para a vida pode levar à rejeição dessas medidas por parte da população e de setores econômicos. Essa resistência pode ser ainda maior em tempos de crise hídrica ou dificuldades econômicas, o que dificulta a aceitação e a continuidade das políticas.

Terceiro, a ausência de infraestrutura adequada para medição, monitoramento e controle do uso da água limita a eficácia das estratégias econômicas. Muitas regiões não possuem sistemas robustos para medir o consumo ou a qualidade da água, dificultando a aplicação de tarifas ou compensações baseadas no uso real.

Por fim, temos o desafio da diversidade de usuários — abastecimento urbano, irrigação, indústria e geração de energia. Setores que dependem intensivamente de água, como a agricultura irrigada e a mineração, podem resistir a mecanismos de restrição de uso, alegando prejuízos econômicos. Conciliar esses interesses divergentes é um desafio constante para o planejamento de uma gestão hídrica eficiente.

2. Como mecanismos econômicos, como a compensação financeira e a tarifa de

contingência, podem promover uma gestão hídrica mais justa e eficiente?

Nesse caso, temos dois mecanismos diferentes que, quando bem aplicados, contribuem para a sustentabilidade financeira dos sistemas de gestão hídrica. A compensação financeira é voltada, por exemplo, para gerir riscos inerentes a eventos de seca, susceptível de proporcionar um significativo ganho em alternativa para a alocação de água. Ao aplicar os recursos da compensação de forma estratégica, é possível garantir o acesso equitativo à água e minimizar desigualdades regionais, promovendo uma gestão hídrica mais eficiente e socialmente justa.

Já a tarifa de contingência atua como um mecanismo de regulação para períodos de escassez hídrica. Quando a oferta de água é reduzida, essa tarifa eleva o custo do consumo excessivo, incentivando a redução do desperdício e promovendo o uso racional. Esse tipo de medida é fundamental para evitar o esgotamento dos recursos hídricos, especialmente em regiões suscetíveis a secas. A tarifa de contingência ajuda a equilibrar a demanda em momentos críticos, garantindo que a água disponível seja suficiente para atender as necessidades básicas da população e os setores mais vulneráveis. Esses mecanismos equilibram os interesses dos diferentes usuários, recompensam práticas sustentáveis, incentivam a economia de água e garantem que os custos sejam distribuídos de maneira equitativa, assegurando o uso consciente e a preservação dos recursos hídricos para as gerações atuais e futuras.

3. Em sua experiência, como parcerias entre a academia e o setor público contribuem para uma gestão hídrica mais eficiente e sustentável?

A colaboração entre academia e setor público permite que o conhecimento técnico- científico produzido nas universidades seja aplicado diretamente para solucionar desafios reais enfrentados pelo setor público. Por meio dessa troca, políticas de gestão hídrica podem ser desenvolvidas com base em dados concretos e ferramentas avançadas de análise, garantindo decisões mais eficazes e adaptadas às realidades locais.

Além disso, a academia contribui significativamente para a capacitação dos profissionais que atuam na gestão pública. Cursos, workshops e treinamentos oferecidos em conjunto com instituições de ensino permitem a atualização constante dos gestores, melhorando sua capacidade técnica e garantindo que estejam preparados para lidar com as complexidades dos recursos hídricos. Esse investimento em formação contínua fortalece a implementação de políticas públicas e amplia a eficiência das ações desenvolvidas. A inovação também é um dos grandes frutos dessa colaboração. A academia tem a capacidade levar novas metodologias, modelos e práticas para serem aplicadas no setor Público. A UFC tem caminhado nesse sentido.

Recentemente, eu fui coordenadora técnica, dos Plano de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas do Curu, Litoral e Alto Jaguaribe. Esse trabalho foi realizado por meio de uma

cooperação técnica entre a UFC e a COGERH com adoção da metodologia participativa, inovação e triangulação metodológica. Essa abordagem aumenta a probabilidade de sucesso das práticas adotadas e facilita sua aceitação pela sociedade. As soluções propostas também tendem a ser mais inclusivas e abrangentes, considerando os aspectos sociais, econômicos e ambientais envolvidos na gestão hídrica. Dessa forma, a sinergia entre academia e setor público cria uma abordagem integrada e dinâmica, essencial para enfrentar os desafios contemporâneos da gestão de recursos hídricos.

4. Que conselhos a senhora daria a jovens pesquisadores interessados em explorar a relação entre economia e recursos hídricos em suas pesquisas?

É um campo que tem muitos aspectos para pesquisar e temos poucos especialistas dessa temática no Brasil. Contudo, a relação entre economia e recursos hídricos é intrinsecamente complexa, envolvendo fatores ambientais, sociais, políticos e tecnológicos. Trabalhar em conjunto com especialistas de áreas como hidrologia e ciências sociais pode fornecer uma visão mais completa do tema. A integração de diferentes perspectivas possibilita soluções mais holísticas e aplicáveis. Estude a legislação e as políticas públicas relacionadas à gestão dos recursos hídricos, como a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997) no Brasil. Entender os instrumentos de gestão, como outorgas, cobrança pelo uso da água e comitês de bacia, é fundamental para contextualizar suas pesquisas e propor soluções viáveis. Colabore com gestores públicos, empresas e comunidades para identificar problemas concretos e propor soluções viáveis, como sistemas de tarifação eficiente, compensação financeira e incentivos econômicos para preservação de recursos hídricos.

5. Na sua visão, quais inovações ou tendências no planejamento hídrico podem transformar o setor nos próximos anos?

O setor de planejamento hídrico está em constante evolução. A principal tendência trata da integração de especialistas de diversas áreas como a Engenharia e as Ciências Sociais

ou as Ciências Políticas. Também podemos falar que a participação social e a colaboração entre os diferentes usuários da água estão se tornando essenciais. Tendências nesse campo incluem governança colaborativa, por exemplo. Outra tendência clara são estudos voltados para a adaptação ao clima. Em termos de inovação podemos falar sobre a economia circular, internet das coisas e inteligência artificial.

Celebrando a Diversidade Brasileira em Recursos Hídricos: PPG-SHS

Convidado: José Gescilam Uchôa

1. O que motivou você a escolher o Programa de Pós-Graduação da sua instituição e ingressar na área de recursos hídricos?

Eu entrei na área de recursos hídricos devido à proximidade da seca em minha vida. Nasci no interior do Ceará, onde a questão da água é constantemente debatida, ainda que indiretamente. As pessoas frequentemente falam sobre o fenômeno da seca e o nível dos reservatórios, que chamamos de açudes.
Quanto à escolha do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Hidráulica e Saneamento (PPG-SHS) da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da Universidade de São Paulo (USP), ela foi influenciada pela indicação dos meus professores durante a graduação na Universidade Federal do Ceará (UFC). O PPG-SHS é um programa consolidado no Brasil, com ex-alunos espalhados por todas as regiões do país. Por coincidência, meu ex-orientador na UFC, Prof. Iran Lima, é um desses ex-alunos e me indicou o Prof. Edson Wendland, que atualmente é meu orientador.

2. Quais são os principais objetivos do seu projeto de pesquisa e como contribui para a gestão e sustentabilidade dos recursos hídricos?

O principal objetivo do meu projeto de pesquisa é contribuir para o entendimento das interações entre corpos hídricos superficiais e subterrâneos. De forma geral, sempre há alguma interação entre esses dois compartimentos hidrológicos. No entanto, a gestão de recursos hídricos, em sua maioria, é realizada de forma separada, o que pode gerar problemas em termos de segurança hídrica e gestão.
Por exemplo, um poço, dependendo da rede de corpos superficiais e da hidrogeologia local, pode estar bombeando boa parte de sua água de um rio próximo. Se isso não for considerado na gestão, pode impactar os ciclos biogeoquímicos dos rios e suas funções ecossistêmicas. Meu trabalho busca trazer informações para fomentar uma gestão mais integrada e sustentável.

3. Na sua visão, quais são os diferenciais e pontos fortes do Programa de Pós-Graduação da sua instituição que podem atrair jovens estudantes e profissionais?

Acredito que o maior ponto forte do PPG-SHS é o financiamento proporcionado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Isso garante uma série de vantagens, como maior apoio financeiro aos projetos e bolsas de mestrado e doutorado com valores mais atrativos.
Além disso, o PPG-SHS é um programa consolidado, com diversos parceiros nacionais e internacionais, o que amplia as oportunidades de networking. No meu mestrado, por exemplo, tive apoio de pesquisadores de seis instituições diferentes, tanto nacionais quanto internacionais.
Por fim, destaco a cultura estabelecida no programa em relação à participação em eventos acadêmicos e à publicação científica, o que é extremamente importante para o crescimento profissional e para impulsionar o currículo.

4. Como a sua experiência no programa tem contribuído para sua formação acadêmica e profissional? Algum momento marcante que gostaria de compartilhar?

Sou muito grato aos membros do PPG-SHS que me apoiaram em momentos marcantes da minha trajetória acadêmica, como meu primeiro congresso nacional e internacional.
O momento mais especial até agora foi a publicação dos resultados do meu mestrado na revista Nature Communications (
https://www.nature.com/articles/s41467-024-54370-3). Foi um marco, pois conseguimos romper a bolha da comunidade científica, alcançando um público mais amplo. Isso é muito gratificante, principalmente porque nossas pesquisas nem sempre recebem visibilidade fora do meio acadêmico.
Espero que minhas pesquisas, assim como as dos meus colegas, possam fornecer ferramentas úteis para a gestão integrada de recursos hídricos, considerando a água como um único recurso, esteja ela na superfície ou no aquífero.

5. Qual mensagem você deixaria para jovens interessados em ingressar na área de recursos hídricos e explorar as oportunidades da pós-graduação?
Gostaria de incentivar todos que estão pensando em ingressar na pós-graduação em recursos hídricos a entrar em contato com ex-alunos do programa de interesse. Dessa forma, é possível conhecer melhor as oportunidades e a cultura do ambiente.
De forma geral, a vida de pós-graduando no Brasil apresenta muitos desafios, especialmente em relação ao valor das bolsas de estudo, que não são tão competitivas em comparação ao mercado de trabalho. Por isso, recomendo ter um planejamento de longo prazo, sempre com um objetivo final em mente.
Acredito que o maior desafio é manter-se motivado ao longo do mestrado/doutorado. Ter um propósito claro pode ajudar, especialmente se ele estiver relacionado ao progresso da ciência brasileira e/ou à melhoria da gestão de recursos hídricos no país.

Contribuições Científicas e o Papel da Pesquisa na Construção de uma Carreira 

Convidada: Brenda Camila Ferreira

1. Quais oportunidades, como bolsas de iniciação científica ou estágios, foram mais marcantes para impulsionar sua trajetória acadêmica? Alguma pessoa ou evento específico influenciou seu caminho?

Durante minha graduação, fui bolsista de iniciação científica por 4 anos (Editais 2020/21 e 2022/23 - CNPq; 2021/22 e 2023/24 - Fundação Araucária) e realizei 5 estágios em diferentes áreas da engenharia ambiental, que foram fundamentais para minha formação. A experiência mais marcante foi minha primeira iniciação científica, no Edital 2020/21, no LACTEC, sob a orientação da Dra. Bruna Polli. Esse projeto, focado em qualidade da água em reservatórios e geoprocessamento, despertou meu interesse pela área de recursos hídricos e ciência. Além disso, a orientação da Dra. Bruna sobre a importância do ambiente científico foi a base para que eu continuasse no Edital 2021/22, orientada pelo Prof. Tobias Bleninger, que segue como meu orientador há quase quatro anos.

2. Como os anos de iniciação científica, as apresentações premiadas e os estágios contribuíram para sua formação profissional e acadêmica? Que aprendizados você destacaria?

Minha trajetória de iniciação científica foi importante para minha formação profissional. Na minha primeira IC, no LACTEC, fui indicada ao Prêmio Destaque CNPq e conquistei o primeiro lugar na apresentação da SIEPE, feito que repeti na minha segunda IC na UFPR. Essas conquistas abriram portas para que, durante minha terceira IC, eu realizasse um estágio científico na University of Windsor (Canadá), trabalhando no Government of British Columbia, sob orientação do Prof. Paul Weidman, na área de qualidade da água.

Além disso, a experiência na minha primeira IC em recursos hídricos foi determinante para conseguir meu primeiro estágio de recursos hídricos na RHA Engenharia e Consultoria, onde atuei em projetos relevantes, como nas bacias do Rio São Francisco e Rio Parnaíba, em parceria com a ONU. Posteriormente, ingressei na SAFF Engenharia, onde atualmente trabalho no setor de hidrologia e hidráulica, contribuindo para projetos de barragens de rejeitos em diversos estados brasileiros.

Embora meus projetos científicos sejam focados na qualidade da água de reservatórios, utilizando sensoriamento remoto, minhas experiências profissionais ampliaram meu conhecimento em segurança hídrica, modelagem hidrológica, dimensionamento de sistemas extravasores, balanço hídrico e ruptura hipotética de barragens. Dessa forma, a iniciação científica foi o ponto de partida que me permitiu expandir e construir minha carreira na área hídrica.

3. Qual foi o impacto de participar de programas internacionais para o avanço de sua carreira científica?

Durante a graduação, tive a oportunidade de participar de dois programas internacionais que foram importantes para minha formação. O primeiro foi um estágio científico no Canadá, onde, diferentemente de outros bolsistas, atuei no governo, especificamente no Ministry of Water Resources em Nanaimo. Essa experiência foi uma oportunidade de expandir meus contatos e vivenciar diferentes ambientes acadêmicos e profissionais. Participei de dinâmicas na University of Victoria, conhecendo estudantes de países como China, Índia, EUA e França, além de eventos na University of British Columbia, onde aprendi sobre pesquisas avançadas em recursos hídricos. Também visitei a University of Northern British Columbia, onde participei de aulas sobre HEC-RAS, laboratórios de mecânica dos fluidos e tive a chance de apresentar sobre o HEC-HMS, interagindo com jovens de países como Alemanha, Hong Kong e Colômbia.

O segundo programa foi uma imersão de duas semanas na Alemanha, por meio do DAAD, com o grupo de extensão 'Água e Ação', coordenado pela Prof. Regina Kishi. Visitamos instituições renomadas, como o KIT, a University of Kassel, o BfG (The Federal Hydrology Institute) e companhia de saneamento alemã. Essa experiência foi extremamente enriquecedora, permitindo-nos conhecer as especializações alemãs na área hídrica e apresentar os trabalhos realizados pelo Água e Ação em comunidades vulneráveis da região metropolitana de Curitiba. Ambas as vivências ampliaram minha visão sobre a área hídrica, consolidaram contatos internacionais e trouxeram inspirações para aplicar no contexto brasileiro.

4. Na sua opinião, como a iniciação científica e experiências similares podem beneficiar jovens pesquisadores em termos de desenvolvimento pessoal e profissional?

A iniciação científica e experiências similares são fundamentais para o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens pesquisadores, pois proporcionam um ambiente de aprendizado prático e a oportunidade de explorar diferentes áreas do conhecimento. No meu caso, a iniciação científica foi um ponto de partida para construir minha carreira na área de recursos hídricos, permitindo que eu adquirisse habilidades técnicas, como o uso de geoprocessamento e modelagem, e desenvolvesse competências pessoais, como apresentação de resultados e trabalho em equipe.

Essas experiências também abriram portas para estágios e programas internacionais, ampliando minha rede de contatos e me conectando com pesquisadores e profissionais de diversos países. Além disso, me ajudaram a entender a importância de integrar a ciência às necessidades práticas da sociedade, como nos projetos de segurança hídrica e qualidade da água.

Por fim, a iniciação científica oferece aos jovens pesquisadores a chance de se envolverem com problemas reais, apresentarem seus trabalhos em eventos e, muitas vezes, serem reconhecidos por suas contribuições, o que é altamente motivador e pode direcionar suas carreiras de forma significativa.

 

Trajetórias Inspiradoras: de Estudante a Profissional em Recursos Hídricos

Convidada: Andreia Pedroso

1. Como você descreveria a transição da vida acadêmica para o mercado de trabalho? Quais desafios enfrentou nesse processo? 

Para além de aplicar o que aprendemos na graduação, a transição da vida acadêmica para o mercado de trabalho é um período de novos e diferentes aprendizados. Um grande desafio nesse processo foi calibrar a “expectativa versus realidade” da entrada no mercado de trabalho, sob diversos aspectos: salário, atividades desenvolvidas, responsabilidades, ambiente corporativo.

2. Você poderia compartilhar um momento ou projeto específico que marcou sua trajetória profissional e por que foi tão significativo? 

O “Estudo de Despoluição do Rio Tietê em Mogi das Cruzes – SP”, que coordenei na ENGECORPS (2022-2023), foi um momento muito marcante na minha trajetória profissional. O projeto propôs soluções, a nível conceitual, para a redução da poluição no rio Tietê na área de estudo, contemplando infraestruturas de saneamento, intervenções hidráulicas para coleta e tratamento de águas de drenagem, e técnicas de recuperação de rios urbanos.

Para as estimativas das cargas poluidoras pontuais e difusas foram realizadas diversas inspeções in loco e coletas e análises laboratoriais da qualidade da água no rio Tietê e seus afluentes sob diferentes condições hidrológicas. Além disso, de maneira inovadora em projetos dessa natureza, foram realizadas coletas e análises de águas pluviais escoadas em sarjeta, por meio de amostradores construídos com base no modelo desenvolvido pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica, que por sua vez foi adaptado do modelo criado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Essa integração entre a academia e a consultoria oportunizou a elaboração e publicação de três artigos técnico-científicos, visando compartilhar as metodologias aplicadas e resultados obtidos, incentivando outras iniciativas similares de diagnóstico e proposição de soluções baseadas no controle da poluição pontual e difusa para melhoria da qualidade das águas.

3. Quais tendências e desafios atuais na gestão de recursos hídricos você acredita que os novos profissionais devem estar atentos?

A quantidade de novas informações produzidas e a rapidez com que elas mudam são desconcertantes! Manter-se atualizado, por meio de leituras de publicações científicas, boletins e notícias, sobre o atual estado da arte dos recursos hídricos, tanto na sua gestão quanto na área técnica – dados, métodos, ferramentas – é primordial.

4. Você enfrentou algum obstáculo significativo na sua carreira? Como superou esse desafio? 

Realizar o mestrado em recursos hídricos simultaneamente à atuação profissional foi uma experiência enriquecedora, mas também representou um enorme desafio conciliar, por um lado, aulas, provas, artigos, e por outro, alta carga de trabalho, viagens, compensação de horas. Foi necessário ter muita resiliência e contar com o apoio e incentivo de familiares, amigos, colegas de trabalho e do mestrado, e, sobretudo, do meu orientador.  

5. Qual mensagem ou conselho você gostaria de deixar para os jovens que aspiram a uma carreira na área de recursos hídricos?

A área de recursos hídricos é bastante promissora, fundamentalmente devido à importância vital da água, em quantidade e qualidade, para a sociedade, e a qual vem sendo cada vez mais impactada pela ocorrência de eventos hidrológicos extremos. Além disso, trata-se de uma área transversal a diversos temas, como meio ambiente, saneamento, obras hidráulicas, mudanças climáticas, ordenamento territorial, entre outros. Oferece, portanto, um amplo leque de oportunidades para atuar em uma diversidade de estudos e projetos.

A Contribuição da Geoestatística nos Estudos sobre Recursos Hídricos

Convidado: Vitor Vieira Vasconcelos

1. Como a geoestatística se diferencia da estatística básica e quais são suas vantagens?

A geoestatística se diferencia da estatística básica por incorporar as informações de localização espacial em suas análises. Isso permite, em contextos de interpolação, que seja possível estimar características do espaço que se localize entre pontos de medição. Uma potencialidade da geoestatística, para estimações mais eficientes nesses contextos espaciais, é incorporar em suas análises os padrões de autocorrelação espacial, isto é, entendendo em que medida as características tendem a mudar gradualmente ou bruscamente no espaço.

2. De que maneira a geoestatística pode ser aplicada na análise de desigualdades no acesso à água e nas disparidades regionais socioeconômicas?

A geoestatística tem sido bastante utilizada para mapear indicadores relacionados a águas subterrâneas (aquíferos), permitindo espacializar informações medidas em poços esparsos no território. Esses mapeamentos podem incluir a profundidade e pressão da água subterrânea, rebaixamento dos aquíferos sobre-explorados, bem como parâmetros de qualidade das águas, incluindo salinidade e poluição por fontes de contaminação. Dessa forma, permitem entender melhor a disponibilidade e vulnerabilidade relacionada aos recursos hídricos subterrâneos. Além disso, as técnicas de geoestatística também são bastante utilizadas para mapear as características climáticas (como chuva e temperatura) a partir dos dados coletados pontualmente em estações climatológicas, permitindo entender as extensões, intensidades e frequências de chuvas e de outras características climáticas no território. Todos esses mapeamentos de disponibilidade de água (chuvas e águas subterrâneas) podem ser comparados espacialmente com mapas de indicadores demográficos e socioeconômicos, para entender a relação entre disponibilidade de água e a demanda e vulnerabilidade pela população.

3. Como as técnicas geoestatísticas podem ser usadas para prever e mitigar os impactos de mudanças climáticas em áreas com acesso limitado a recursos hídricos?

Avanços recentes nos métodos de geoestatística têm permitido avançar da interpolação espacial para a interpolação espaço-temporal. Isso foi potencializado pela disponibilidade cada vez maior de bases de dados espaço-temporais (medidas ao longo do tempo e do espaço), incluindo dados socioeconômicos, climatológicos e de águas superficiais e subterrâneas. Com isso, é possível mapear as tendências de mudanças que ocorreram nas últimas décadas e estender essas tendências para períodos futuros. Como um exemplo, podemos delimitar, pela geoestatística, regiões em que as mudanças climáticas apontam uma tendência de aumento das secas, e cruzar com mapeamentos mostrando as tendências de crescimento demográfico. Dessa forma, áreas com tendência de aumento de secas e que ainda apresentem tendência de crescimento demográfico podem ser escolhidas como prioritárias para políticas públicas de prevenção e mitigação dos impactos de mudanças climáticas.

4. Na sua opinião, como jovens pesquisadores podem começar a estudar/aplicar a geoestatística em seus projetos de pesquisa?

Hoje em dia, muitos pesquisadores têm aprendido as técnicas de geoestatísticas a partir de tutoriais e vídeos disponíveis na internet. Com a crescente disponibilização de ferramentas gratuitas de geoestatística em sistemas de informação geográficas (como QGis e SAGA) e em ambientes abertos de programação (como R e Python), se torna mais fácil para que os jovens pesquisadores possam usar essas ferramentas. Além disso, é importante que os jovens pesquisadores se apropriem e entendam as potencialidades das bases de dados disponíveis, como dados de estações climatológicas (tais como os do INMET, CEMADEN e ANA) e de poços (como o SIAGAS, da CPRM). Todavia, para adquirir maior segurança nas técnicas de geoestatística e conseguir aplicar ferramentas mais avançadas, é útil a realização de cursos especializados, bem como a leitura de livros e artigos acadêmicos nessa área.

O que a CT Jovem proporcionou na vida acadêmica e profissional?

Convidada: Alondra Perez

1. Como você conheceu a CT Jovem e o que a motivou a se envolver com o grupo?

Durante o XXIV SBRH a CT Jovem realizou uma reunião aberta para apresentar a Comissão e formar a nova coordenação. Vi na CT Jovem uma oportunidade de estar em um espaço de troca de experiências e oportunidades, além de ser um meio de aproximação da ABRHidro. O alinhamento na equipe que compôs a CT Jovem e o apoio da diretoria da ABRHidro foram fundamentais para o envolvimento no grupo.

2. Quais foram as principais oportunidades que a CT Jovem trouxe para sua formação acadêmica/profissional?

Minhas atividades na CT Jovem me ajudaram a desenvolver habilidades que me ajudaram a me candidatar a vagas de emprego, como coordenação da equipe, organização de eventos, trabalho em grupo. Os temas discutidos na HidroTalks sempre contribuíram para minha formação, como conhecimento técnico, novas ferramentas e reflexões pessoais.

3. Você poderia compartilhar uma experiência marcante vivida através da CT Jovem?

Em 2022 a ABRHidro me convidou para representá-los em como no XXIV ENCOB em uma mesa redonda que discutia a inserção da Juventude no contexto da Gestão dos Recursos Hídricos. Foi uma situação que me tirou totalmente da minha zona de conforto. Além da fala durante a mesa, fui convidada durante o evento a participar da solenidade de abertura, onde estiveram todas as pessoas de peso na Gestão de Recursos Hídricos, e eu. Aprendi muito através desse convite. Reafirmei minha crença de que a educação tem que ser a base para qualquer mudança e conheci pessoas que nunca teria tido acesso sentada no meu escritório. Como diria Cristóvão, presidente da ABRHidro na época, sempre devemos refletir sobre qual foi nosso aprendizado. Meu maior aprendizado foi que ninguém é especial. Quando você vê alguém assumindo a fala e liderando, e fica se questionando se seria capaz de ser assim também, saiba que o que essa pessoa mais tem é a coragem de assumir a responsabilidade e ir em frente, mesmo com medo. 

4. Como as atividades da CT Jovem ajudaram na construção da sua rede de contatos profissionais?

Sendo a ABRHidro uma associação em nível nacional, a CT Jovem permitiu que conhecesse pessoas muito além da minha rede local. Além da própria equipe da coordenação e da Associação, pertencer a um grupo em comum facilitou a socialização durante os eventos. Você sempre vai ter um ponto de partida para iniciar uma conversa que pode se se tornar um trabalho em conjunto, uma oportunidade de emprego, uma amizade. 

5. Que conselhos você daria para jovens que estão considerando se envolver com a CT Jovem?

Aos jovens que pensam em se envolver com a CT Jovem meu conselho é que reflitam se eles acreditam na proposta da CT. E se acreditarem, que participem do grupo para fazer seu melhor dentro do que se tem para oferecer. Existem muitas formas de pertencer e promover esse espaço sem ser necessariamente estar na coordenação. Mas os resultados só acontecem se você acredita no impacto que a proposta de CT Jovem tem sobre os jovens profissionais.

Como foi a sua jornada de doutorando em recursos hídricos no exterior?

Convidada: Noemi Vergopolon


 

1. O que motivou sua decisão de fazer um doutorado em recursos hídricos no exterior?

Após um estágio no NASA Jet Propulsion Lab (JPL) nos Estados Unidos, onde estudei os impactos do desmatamento no ciclo hidrológico usando sensoriamento remoto, eu percebi o potencial dessa tecnologia para estudar a dinâmica hídrica em escalas continentais e globais. Minha motivação foi expandir meu conhecimento em modelagem matemática além da graduação para utlizar essas technologias de sensoriamento remoto de forma mais eficaz.

O JPL me despertou o interesse de desenvolver pesquisa em nivel internacional e poder interagir com profissionais de diferentes culturas e formações, o que me trouxe uma visão mais abrangente e inovadora sobre os desafios em recursos hídricos.

2. Quais foram suas expectativas antes de começar o programa de doutorado? Elas se concretizaram?

Meu objetivo principal era me tornar uma especialista em modelagem e previsão de recursos hídricos em escala global utilizando sensoriamento remoto para estudar fenômenos de secas e cheias. Durante meu doutorado em Princeton minhas expectativas foram superadas em muitos aspectos, tive a oportunidade trabalhar com o Prof. Eric Wood, um dos líderes em pesquisa na area de hidrologia de larga escala, e de liderar avanços científicos no desenvolvimento de modelos de estimative de soil moisture e na construção de uma rede internacional de colaboração. No entanto, durante o doutorado o foco é se tornar especialista em uma tecnologia, no meu caso assimilação de dados de satellite de umidade de solo em modelos de superfícia de alta resolução. Apenas agora, como professor ana Rice University, tenho a oportunidade de explorar o beneficio aplicado dos métodos e tecnologias que desenvolvi para apoiar a tomada de decisão em recursos hídricos de forma prática e efetiva.

3. Qual foi a experiência mais gratificante que você teve durante o doutorado?

A experiência mais gratificante foi o reconhecimento do impacto da minha pesquisa em nível internacional, refletido no recebimento do prêmio "2022 American Geophysical Union Science for Solution" por “contribuições excepcionais para a segurança hídrica e alimentar por meio de avanços em modelagem de superfície terrestre em hiper-resolução e sensoriamento remoto por satélite”. Além disso, as amizades e parcerias que construí ao longo do caminho, com colegas, mentores e colaboradores, foram essenciais para meu crescimento profissional e pessoal e muito gratificantes.

4. Como você se atualizava sobre as tendências e inovações em recursos hídricos durante o doutorado?

Para me manter atualizada, eu seguia publicações de pesquisadores de referência no Google Scholar e acompanhava discussões científicas nas redes sociais, como Twitter e LinkedIn. Além disso, conferências internacionais foram essenciais para trocar conhecimento e entender os novos rumos e desafios na área de recursos hídricos.

5. Como a sua jornada no doutorado moldou suas aspirações profissionais futuras?

O doutorado ampliou meu campo de interesse, especialmente ao me proporcionar a oportunidade de explorar inteligência artificial e novas tecnologias para previsão hidrológica. Mais do que tudo, o doutorado me ensinou a aprender: com os recursos, tempo, e mentoria, é possível adquirir qualquer nova habilidade. E com esse aprendizado eu tenho a flexibilidade de pivotar minha carreira e linha de pesquisa conforme necessário. Hoje, minha pesquisa é voltada para em integrar o uso de novas tecnologias de escala global para uma gestão hídrica mais resiliente e eficiente, focando em aplicações nas áreas de secas, cheias e agricultura.

O caminho inspirador de um jovem entusiasta dos Recursos Hídricos até a

Presdiência da ABRHidro.

Convidado: Cristovão Fernandes

1. Qual foi o papel da ABRHidro na sua trajetória profissional e acadêmica e como a associação pode apoiar o desenvolvimento de jovens profissionais na área de recursos hídricos?

A ABRHidro é um ambiente associativo que congrega todos os profissionais e traz suas experiências no âmbito do processo de discussão e política institucional sobre o tema que estamos trabalhando. Um profissional que não está vinculado a uma associação pode estar desinformado ou não ter o networking necessário para avançar.

Desde o início da minha carreira, encontrei professores e profissionais que escreviam livros, e isso me motivou a perceber que a ciência é universal. A primeira vez que fui a um evento de associação foi em 1985, e a ABRHidro teve um papel muito importante na minha formação como professor.

Para jovens profissionais, a associação oferece a oportunidade de se capacitar e criar uma visão crítica sobre os temas que estão consolidando.

2. Quais habilidades e competências foram fundamentais para alcançar a presidência da ABRHidro?

Todos podem chegar à presidência da ABRHidro, mas a associação tem uma história bonita que ajuda a entender essa dinâmica. Desde a sua origem, a ABRHidro se propôs a ter um encontro bianual para manter o tema água em destaque e renovar suas lideranças.

O processo de construção de lideranças e gestão me ajudou a entender melhor essa dinâmica. O que me ajudou foi o networking, participar da revista da ABRHidro e ser convidado para ajudar a construir ideias. A minha função é cuidar de jovens e observar como eles ajudam a contribuir com novas ideias.

Chegar à presidência foi um processo construído com muito apoio das pessoas ao meu redor. É essencial criar relações de confiança, e eu sempre busquei ser empático e conciliador.

Essa diversidade de pensamento e a disposição para lidar com diferentes personalidades ajudaram bastante. Qualquer associado pode construir sua carreira e chegar à presidência, desde que tenha a disposição de ajudar a associação.

4. Como a ABRHidro ajudou na sua formação e trajetória na gestão de recursos hídricos?

Agradeço à ABRHidro, pois toda a discussão sobre a gestão de recursos hídricos no Brasil e a política nacional vigente foram debatidas dentro da associação.

Lideranças fortes contribuíram para isso, e sempre me senti intrigado e curioso nas reuniões e mesas redondas, percebendo que ciência e técnica fazem sentido quando impactam a vida das pessoas.

Ao longo do tempo, fui exposto a diferentes modelos de gestão, comitês de bacia e uma diversidade de pensamentos, o que foi fundamental para minha formação.

5. Quais momentos foram mais gratificantes em sua trajetória na ABRHidro?

Vários momentos foram marcantes, como assistir a palestras inspiradoras, levar alunos a eventos e participar das discussões da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Outro momento significativo foi a gestão da Professora Synara Aparecida durante a pandemia, que trouxe muitos aprendizados.

A transformação da ABRHidro durante esse período também foi um marco importante. Além disso, eventos como os de 2017, 2019 e 2021 mostraram um amadurecimento da associação e um dinamismo crescente entre os associados.

6. Que conselhos você daria para jovens que aspiram posições de liderança em recursos hídricos?

Um conselho importante é que, às vezes, é necessário recuar um passo para avançar em outros.

A construção de relacionamentos e a capacidade de ouvir e aprender são fundamentais. A liderança não se limita a uma função específica, mas envolve a vontade de contribuir e se engajar com a comunidade.

É essencial encontrar um equilíbrio entre a paixão pela causa e a flexibilidade para navegar por diferentes desafios.

Como foi a sua jornada de doutorando em recursos hídricos no exterior?

Convidado: Dimaghi Schwamback

1. O que motivou você a buscar um doutorado em recursos hídricos fora do Brasil?

Eu sempre quis fazer uma formação técnica no exterior, buscando acesso a financiamentos continuados, exposição a ideias e culturas diversas e a frequentar as melhores instituições. Esse desejo começou ainda durante a graduação quando fui bolsista do Ciências sem Fronteiras na Drexel University e depois com um estágio na Yale University, ambas no EUA. Voltei para o Brasil, me formei, comecei o mestrado na USP e devido à continuidade do projeto de mestrado, acabei seguindo no doutorado na mesma instituição. Por acaso, durante minha sondagem de  pesquisadores para realizar o doutorado sanduíche, fui convidado para iniciar um convênio de dupla titulação com a Lund University (Suécia). Daí então, depois de 18 meses (sim, demorou isso tudo) foi assinado o convênio entre o departamento de Engenharia Hidráulica e Saneamento da USP e a divisão de Water Resources Engineering da Lund University.

2. Como o ambiente acadêmico no exterior se diferencia do Brasil na área de recursos hídricos?

Durante meu doutorado, eu tinha amigos fazendo o período sanduiche em diferentes países e a experiencia pessoal era completamente diferente entre nós, então as visões que passarei são as que eu tive. Poderia elencar duas diferenças principais: a diversidade de temas desenvolvidos e o relacionamento pessoal. O departamento que frequentei em Lund é muito mais diverso que o da USP, contemplando além da hidrologia rural e urbana, tópicos como erosão costeira, hidrologia glacial, e desenvolvimento de modelos com inteligência artificial. Por fim, doutorandos e professores estão alocados num mesmo corredor, dividindo salas de trabalhos, tomando café da manhã e almoçando juntos todos os dias. Esse convívio diário facilitavas as interações e colaborações entre as diferentes temáticas.

3. Quais habilidades e conhecimentos você adquiriu durante o doutorado que mais contribuíram para sua carreira?

Realizar pesquisa no exterior é semelhante a fazer no Brasil e nossas universidades e pesquisadores são bons nisso. Então minha maior experiência decorrente de fazer pesquisa fora do país foi em outro aspecto. Em 2022 eu fui convidado a participar da construção de um projeto de pesquisa para financiamento da união europeia. O projeto era absurdamente gigantesco, envolvendo 30 parceiros (universidade, centros de pesquisa e empresas) de 15 países com orçamento de quase 6 milhões de euros. Participar da idealização, preparação da proposta, aprovação e condução de um projeto dessa magnitude não tem preço. Ao longo dessa jornada aprendi além de como realizar uma pesquisa, mas sobre escopo de projeto, valoração de atividades, gestão de tempo e cronograma etc.

4. Como você vê a importância da colaboração internacional na pesquisa de recursos hídricos?

A colaboração internacional na pesquisa de recursos hídricos é fundamental porque os desafios relacionados à água, como a escassez, a poluição e os impactos das mudanças climáticas, afetam o mundo todo, em diferentes magnitudes. Quando pesquisadores de diferentes países trabalham juntos, eles conseguem compartilhar experiências e tecnologias, o que ajuda a entender melhor como os processos hidrológicos se comportas em diferentes regiões. Isso também permite que todos tenham acesso a mais dados e possam criar soluções mais eficazes para gestão dos recursos hídricos de forma sustentável, garantindo que ela esteja disponível no futuro para todos.

5. O que mais te inspira ao olhar para trás na sua jornada de doutorando no exterior?

Eu nasci e cresci no sítio em Ibituba, uma vila de 300 pessoas no interior do ES. Meus pais têm a quinta série e durante toda minha vida eu tive apenas acesso a instituições públicas de ensino. Sou fruto de décadas de políticas públicas afirmativas de promoção a educação e qualificação no Brasil. Minha formatura como doutor em ciências da Engenharia hidráulica e saneamento pela Universidade de São Paulo e como doutor em filosofia de Water Resources Engineering pela Lund University sempre será um símbolo de vitória, persistência e superação na minha vida. Atualmente trabalho como pesquisador na EMBRAPA e na USP, retornando à sociedade o investimento em mim realizado.

Jovens que transformaram seus projetos de recursos hídricos em carreiras

Convidada: Mayra Ishikawa 

1. Poderia iniciar compartilhando sobre como iniciou a sua carreira como engenheira ambiental no Instituto Federal de Hidrologia da Alemanha?
Ao fim do meu doutorado estava à procura de vagas de pós-doutorado pela Europa. Na época meu orientador me encaminhou uma vaga que se encaixava no meu perfil. Apesar de eu não falar alemão fluente, entrei em contato com a BfG perguntando se poderia aplicar para a vaga mesmo assim, recebi uma resposta positiva e fui chamada para entrevista. No fim das contas não fui selecionada para essa vaga, mas alguns meses depois uma das pessoas que me entrevistou entrou em contato comigo e me convidou para aplicar para outra vaga que havia surgido no grupo.
A BfG não é um ambiente tão internacional como as faculdades e eu achava que não tinha muitas chances de começar aqui, mas ter dado o primeiro passo em me expor e mostrar as minhas experiências profissionais e acadêmicas foram essenciais.

2. Quais as principais diferenças que você observou entre as abordagens de gestão de recursos hídricos no Brasil e na Alemanha?
Para ser sincera acho que não consigo apontar as diferenças, porque não tive muito contato com as abordagens brasileiras. Mas consigo apontar o que eu acho interessante na abordagem alemã.
O instituto em que eu trabalho é subsidiado pelo Ministério de Transportes, portanto fazemos pesquisas em hidrovias. Outros corpos d’água como reservatórios, lagos e rios que não são usados como meio de transporte, são de responsabilidade de corporações públicas direcionadas exclusivamente para uma bacia, ou das secretarias de meio ambiente a nível estadual.
Dito isso, a BfG é responsável pelo desenvolvimento de pesquisas associadas às hidrovias federais. As pesquisas vão de desenvolvimento de novas tecnologias para o monitoramento da quantidade e qualidade da água, previsões de nível, transporte de sedimento e ecologia. Os temas específicos podem vir de demandas do Ministério de Transporte com focos em problemas específicos que estão sendo enfrentados no momento, ou para a adaptação de futuras demandas.
Eu por exemplo, atualmente trabalho em um projeto que visa a preparação de todo o sistema de transporte (incluindo rodovias e ferrovias) para adaptações a mudanças climáticas. Um dos pontos mais importantes é o desenvolvimento de estratégias para o enfrentamento de eventos extremos, tanto cheias como secas. O deterioramento da qualidade da água também é incluída na análise.
Tudo isso para dizer que aqui grandes tomadas de decisões a princípio são baseadas em pesquisas científicas. Os institutos de pesquisa têm um papel muito importante e ajudam no direcionamento do desenvolvimento do país. E eu acredito que talvez essa seja uma grande diferença entre Brasil e Alemanha.

3. Como sua experiência acadêmica no Brasil contribuiu para seu trabalho na Alemanha e quais habilidades específicas você desenvolveu que foram fundamentais para sua atuação em recursos hídricos?
A minha trajetória acadêmica no Brasil começou com uma iniciação científica e posteriormente o mestrado. Lembro que no começo ler artigos científicos demandava muito de mim, mas foi bom para eu começar a conhecer esse universo e entender como os trabalhos de pesquisa funcionam. O mestrado foi essencial nesse ponto.
Mesmo que fora da área acadêmica, quando temos o conhecimento básico de como os processos funcionam conseguimos identificar problemas, criar hipóteses sobre os seus mecanismos e encontrar soluções. Isso é essencial e está diretamente ligado ao método científico.
Falando diretamente de habilidades, acredito que as habilidades comportamentais (soft skills) que eu desenvolvi foram gerenciamento de tempo e pensamento analítico. E as habilidades técnicas (hard skills) foram o inglês, modelagem matemática e programação.

4. O que te motiva a continuar trabalhando na área de recursos hídricos?
Comecei minha carreira acadêmica trabalhando com a dispersão de jatos e plumas em ambientes aquáticos, posteriormente no meu doutorado foquei em reservatórios subtropicais e atualmente estou trabalhando com rios. Eu acho fascinante como apesar dos mecanismos básicos serem sempre os mesmos, diferentes corpos d’água se comportam de maneiras distintas. Tenho vontade de trabalhar com lagos e reservatórios de outros climas, estuários, córregos… eu tenho uma vontade de conhecer um pouquinho de cada sistema. E além de tudo isso, trabalhar com um elemento tão essencial para nós me traz um sentimento de satisfação. Saber que estou dando uma pequena contribuição para manter, melhorar e adaptar nossa existência na Terra me traz motivação.

Percepções da COP28 em relação a recursos hídricos

Convidada: Verena Meirelles

1. Quais soluções inovadoras para a gestão de recursos hídricos foram discutidas durante a COP28 e que compromissos foram assumidos pelos países para proteger e gerir os recursos hídricos de forma sustentável?

Primeiro gostaria de contextualizar o que é a COP28: É a conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas que ocorreu em 2023 em Dubai. É uma conferência muito grande e não é possível acompanhar tudo o que acontece, mas o principal compromisso, é de limitar o aumento da temperatura global, e se adaptar aos impactos causados pelas alterações do clima, portanto, ao decorrer da conferência cada país apresenta suas estratégias para poder assumir esse compromisso, e isso envolve os recursos hídricos, como proteção de nascentes, preservação das matas ciliares, e compromissos em torno da água. A COP28 teve um pavilhão só para falar sobre pautas relacionadas à água, e atuações globais sobre o tema. Uma solução que consegui acompanhar, foi a iniciativa de promover práticas agrícolas mais sustentáveis para reduzir o consumo de água, e evitar a contaminação de lençóis freáticos por agrotóxicos (pois os lençóis freáticos são uma estratégia de mitigação e adaptação em casos de eventos de seca).

2. Como os jovens profissionais/pesquisadores podem se envolver nos esforços globais no contexto de conferências internacionais, nessa relação de recursos hídricos e mudanças climáticas?

Eu particularmente não sabia o impacto que as "COPs" tinham na elaboração de políticas e ações ao decorrer do ano no nosso país. Acho que o primeiro passo para jovens entusiastas é entender essa relação da ONU com as pautas internacionais, e caso se interessem podem estar cada vez mais participando de conferências sejam locais, nacionais ou internacionais. A visão de todos é importante para termos promoção de políticas e soluções eficientes no combate dos impactos causados pelos eventos extremos.

3. Qual foi a sua percepção geral sobre as decisões tomadas na COP28 sobre o futuro dos recursos hídricos?

Acho que a pauta sobre mitigação e adaptação ainda precisa ser muito debatida nas próximas conferências quando falamos sobre recursos hídricos, por exemplo: visto que a sociedade historicamente ocupou margens de rios, e que com as mudanças climáticas a variabilidade do nível do rio pode chegar a picos extremos, pensar em políticas de adaptação dessa parcela da população é extremamente importante para evitarmos riscos a vida. Por isso, acredito que a pauta climática deve estar diretamente ligada à pauta de recursos hídricos, pois assim como ocorre na natureza, são indissociáveis.

Publicando Sua Pesquisa em Recursos Hídricos:

Dicas para Jovens Cientistas

Convidada: Tereza Margarida Xavier de Melo Lopes

1. Quais são os principais desafios que um jovem cientista enfrenta ao tentar publicar sua primeira pesquisa?

O primeiro desafio é a adaptação ao formato de artigo científico, já que muitas graduações focam na elaboração de relatórios, não preparando os alunos adequadamente para a escrita acadêmica exigida por revistas e eventos científicos. Outro obstáculo significativo é identificar o evento ou a revista mais adequada para a publicação da pesquisa.

Além disso, outro grande desafio é o custo financeiro envolvido. Participar de eventos científicos exige um investimento considerável, com inscrições que podem ser extremamente onerosas. Isso sem contar as despesas adicionais com transporte, hospedagem e alimentação. Para jovens cientistas, especialmente os que ainda estão na graduação, esses custos representam um obstáculo significativo. Em muitas instituições, os recursos destinados a financiar a participação de estudantes em eventos são escassos ou inexistentes, tornando ainda mais difícil para os pesquisadores em início de carreira disseminarem seus trabalhos.

2. Que estratégias você recomenda para escolher o periódico certo para publicar uma pesquisa em recursos hídricos?

A principal estratégia é solicitar o direcionamento do orientador, pois sua experiência e expertise são fundamentais para essa escolha. No entanto, há outras estratégias complementares que podem ajudar: i) Defina o escopo da sua pesquisa e identifique quais periódicos frequentemente publicam sobre o tema; ii) Verifique o Qualis e o fator de impacto do periódico, avaliando se sua pesquisa atende aos requisitos de qualidade exigidos; iii) Considere o tempo de revisão e publicação da revista, uma vez que algumas podem levar anos para publicar o artigo; iv) Analise as taxas de publicação, pois algumas revistas cobram por publicação ou acesso aberto; então avalie se você tem recursos financeiros para cobrir esses custos, ou se é melhor optar por periódicos que não cobram taxas. Seguindo essas estratégias, você aumenta as chances de publicar sua pesquisa em um periódico que valorize seu trabalho e alcance o público desejado.

3. Como a colaboração com outros pesquisadores pode fortalecer uma publicação científica em recursos hídricos?

A colaboração torna o estudo mais completo e interdisciplinar ao diversificar a expertise da equipe. Além disso, facilita o compartilhamento de dados e recursos, permitindo que os pesquisadores complementem suas contribuições. Com múltiplos especialistas, os resultados são discutidos e validados de forma mais robusta. A troca de conhecimento fortalece a argumentação científica e amplia o impacto da pesquisa, não só enriquecendo o conteúdo, mas também abrindo portas para futuras colaborações, conferências e publicações conjuntas.

4. Quais recursos e ferramentas você recomenda para ajudar na escrita e formatação de um artigo científico?

  1. Edição de Texto: Para editar o texto, recomendo o Microsoft Word e o Google Docs, ambos são eficientes e amplamente usados em ambientes acadêmicos.
  2. Pesquisa de Referencial Teórico: As plataformas Scopus e Web of Science são excelentes para a busca de referencial teórico de alta qualidade, oferecendo acesso a uma vasta gama de artigos científicos.
  3. Organização de Referências: Para organizar as referências bibliográficas, sugiro o uso do Mendeley, que facilita a gestão e formatação de citações em diversos estilos.
  4. Escrita Colaborativa: Para a escrita colaborativa, o Google Drive é uma ferramenta prática que permite a colaboração em tempo real e o armazenamento seguro de documentos.

Esses recursos me ajudam a otimizar o processo de escrita, pesquisa e formatação, facilitando a produção de trabalhos científicos.

Trabalho em Campo: Experiências e Dicas

Convidada: Ana Letícia Gaia

1. O quanto você considera importante o trabalho em campo, para os projetos/estudos que atua?

Como membro do time de Sustentabilidade e Meio Ambiente, eu lido com dois tipos de trabalho de campo.

O primeiro é aquele no qual vocês provavelmente estão pensando – o campo clássico de engenharia sanitária, com visita a estação de tratamento e a lixão. Nesse caso, acredito que a importância seja de 9/10. Por mais sinceros e engajados que os agentes locais sejam, sempre há algo que eles não informam, seja por desconhecimento (não entendem a informação como relevante para o campo) ou por medo (achar que a informação pode, de algum modo, prejudicar o município/estado).

O segundo é um campo de cunho mais social, com organização de eventos de participação da população local. Nesse caso, atribuo uma importância de 7/10. Isso porque, nesta situação, existem ferramentas para fazer a atividade online (como reuniões no Google Meet, aplicativo nativo de celulares Android, com transmissão ao vivo no YouTube). Todavia, essa escolha não substitui o campo por completo, uma vez que, mesmo com a internet alcançando cerca de 80% dos lares brasileiros, ainda há vários recantos do país nos quais ela mais limita que fomenta a adesão aos eventos.

2. Qual conselho você pode dar para quem se depara com situações inesperadas ou imprevistas enquanto está no trabalho externo?

Um professor da Ufal me dizia que existem dois tipos de problema: os que têm solução e os que não têm (risos).

Por isso, em primeiro lugar, racionalize o quanto a situação está sob seu controle. Se for algo que você depende de você resolver, análise quais recursos lhe serão demandados (dinheiro, tempo, mais pessoas para ajudar...) e organize, de maneira lógica, os seus próximos passos. Se for algo além do seu alcance, acione quem você acredita que será capaz de te direcionar (seu superior direto, o cliente, a locadora de veículos...).

Acima de tudo, certifique-se de que você e sua equipe estão em segurança. Se você tentar resolver o problema se colocando em risco, então serão dois problemas.

3. Você poderia compartilhar uma experiência desafiadora ou marcante que você passou quando estava em campo?

Certa vez, no interior do Nordeste, meu trabalho envolvia visitar uma série de lixões (o que, por si só, já era uma irregularidade). Chegando lá, nos deparamos com vários agravantes, como catadores de material reciclável residindo no local e queimas de resíduos de serviços de saúde sem qualquer controle.

Em um deles, flagramos um caminhão descarregando resíduos de um frigorífico industrial, que empregava muitas pessoas do local. Enquanto o funcionário da prefeitura questionava sobre a situação, um segundo caminhão chegou ao local, desta vez um limpa-fossa do próprio poder público, que também lançou os resíduos no local.

Uma vez que todos estavam errados, não houve denúncia ou autuação. Considero essa uma situação marcante pelo absurdo da coisa e desafiadora porque, mesmo ciente da irregularidade, eu não tinha função fiscalizadora e precisei de “jogo de cintura” na comunicação oral, durante o acontecido, e escrita, ao redigir o relatório de diagnóstico.

4. Quais dicas/sugestões você pode passar para quem for realizar um trabalho técnico em campo? (pode ser entre 5 a 10 dicas)

  1. Levante tudo o que puder no escritório. É mais fácil um operador confirmar ou corrigir um dado que você sugere do que te informar um valor de maneira espontânea, sobretudo quando a prestação é regional/estadual.
  2. Faça um roteiro para as suas perguntas, mas não se limite a ele. Todo campo tem suas peculiaridades.
  3. Invista em cosméticos sólidos. Xampu em barra e protetor solar em bastão economizam espaço na sua mala e evitam riscos de derramamento.
  4. Não leve dinheiro contado. Eu recomendo multiplicar seu orçamento por 1,25-1,50, a depender do custo de vida de onde você vai. Os problemas que demandam valores altos (precisar trocar de hotel, carro quebrar, perder avião/ônibus) em geral acontecem fora do horário comercial, quando o pessoal do financeiro não pode aprovar um novo limite no cartão coorporativo em tempo hábil.
  5. Aja com naturalidade quando encontrar situações nas quais o cliente ou o entrevistado apresente uma situação delicada do ponto de vista ambiental, inclusive em termos legais. Frise que o seu papel não é de fiscalização e deixe o entrevistado à vontade para apresentar a realidade e os desafios vivenciados.
  6. Aproveite a viagem! Trabalhos de campo com vários dias em geral envolvem finais de semana em lugares que você jamais visitaria por vontade própria (risos), então conheça tanto quanto puder.
  7. Me siga no LinkedIn para acompanhar as dicas de campo que eu compartilho por lá

Parte 1: https://www.linkedin.com/posts/ana-gaia_6-dicas-para-te-ajudar-no-seu-próximo-activity-7069406886130765824-Z2Eb/?trk=public_profile_like_view&originalSubdomain=pt

Parte 2: https://www.linkedin.com/posts/ana-gaia_6-dicas-para-te-ajudar-no-seu-activity-7115094921862131712-i2OL/

Parte 3: https://www.linkedin.com/posts/ana-gaia_6-dicas-para-te-ajudar-no-seu-activity-7198804701646057472--j7g?utm_source=share&utm_medium=member_desktop

5. Espaço para seus comentários adicionais se quiser!

Independente se esse é o seu primeiro ou o seu milésimo trabalho de campo, converse com profissionais em quem você confia, de dentro e de fora do seu time, e procure entender como melhorar. Sempre há algo novo para aprender!

Dicas de Carreira para Jovens Entusiastas da Área de Recursos Hídricos

Convidado: Everton Jhons Goes Silva Soares

1. Cite 2 habilidades técnicas e 2 habilidades interpessoais que considera importante para trabalhar com gestão de recursos hídricos.

Como habilidades técnicas vejo a Análise crítica-investigativa e Análise de Dados: É importantíssimo, seja para qualquer área dentro da gestão de recursos hídricos, ser capaz de interpretar dados, avaliar tendências e fazer prospecções. Em posse dessas informações, elas se constituem ferramentas indispensáveis para o entendimento do problema e tomada de decisão e ter essas habilidades pode ser o caminho para

Em relação a habilidade interpessoais: Acredito que sensibilidade, que pode ser marcada por empatia e uma escuta ativa, associada ao pensamento lógico na resolução de problemas. Em conjunto essas duas habilidades podem permitir alcançar os objetivos de forma eficiente. Como profissional de recursos Hídricos, é importante reconhecer que as decisões tomadas desempenharão um forte papel na sociedade, especialmente das pessoas. Equilibrar os pratos e garantir a distribuição de um recurso valioso e finito exige conhecer os problemas enfrentados, elaborar estratégias eficientes e usar o conjunto dessas habilidades para definir prioridades.

2. Quais são as estratégias mais eficazes para desenvolver um bom networking?

Saber desenvolver um bom networking é um passo importante para firmar relações. Algumas estratégias eficazes para alcançar uma rede de contatos de qualidade são:

Saiba definir e procure conhecer a sua área de interesse

Esse é um ponto importantíssimo para traçar um bom caminho: saber onde se quer chegar. Se permitir estudar em busca de dominar a sua área de interesse pode ser o ponto chave para alimentar o interesse e o desejo que, por sua vez, podem ser o gatilho para novas experimentações e descobertas. É prazeroso traçar um caminho por aquilo que se gosta e, melhor ainda, manter um diálogo com alguém que se mostra interessado em ouvir e interessante ao falar. Vale notar que conhecer áreas relacionadas também é uma forte de estratégia para permitir a expansão das suas conexões.

Participe de eventos

É fato que as redes sociais e o mundo digital têm se tornado alcançado destaque quando o ramo é a criação de novas conexões, mas o encontro presencial é um ponto estratégico nas relações humanas. Eventos em áreas relacionadas àquela do seu interesse são o espaço de aprendizado, de fala e de escuta de projetos, ideias, estratégias e atualização. A manutenção dessa visibilidade pode ser capaz de assegurar que você vai ser lembrado.

Atualize suas redes sociais e meios de comunicação

Nada mais justo do que mencionar agora uma das estratégias mais usadas para desenvolver um bom networking. É difícil imaginar a sociedade longe dos meios digitais segundo o modo de viver e se comunicar que estamos inseridos hoje. Então, nada melhor que usar essas ferramentas ao seu favor. As redes sociais facilitam o acesso à informação e o público, além de ser um ambiente perfeito para divulgação de conquistas, desenvolvimentos de debates, conhecimento de oportunidades e criação de novas relações. Mas é importante ter cuidado desde que esse meio também pode tornar-se uma faca de dois gumes:

  • Com acesso a tanta informação, é preciso saber filtrar o que se absorve ou dissemina;
  • Nem sempre ter uma rede de contatos extensa é sinônimo de qualidade. Para uma boa rede é necessário que a relação e comunicação sejam cultivadas e estejam ativas;
  • A comparação pode ser um problema para quem está começando. Nem sempre se começam com passos largos. Entenda que o importante ao se estabelecer uma rede é o caminho e não o fim. Saber cultivar, se colocar, abrir o espaço para a escuta e a fala é de grande valia nesse processo;
  • É comum nos fecharmos em bolhas ou em nichos muito específicos o que pode dificultar a expansão e qualidade da rede. É importante ter diversidade ao se explorar para garantir que novas visões agreguem àquela que já está sendo estabelecida. Atentando-se ainda que “atirar para todo lado” não é uma postura muito eficaz. É preciso saber onde se quer chegar, mas saber apreciar o caminho e os pequenos desvios sem desviar totalmente do foco e correr o risco de se perder.

Em resumo, saber conciliar essas três estratégias pode aumentar ainda o poder e eficácia do seu networking. Lembrando da importância de manter o foco, mas estar disposto a aprender e ouvir sem enrijecer a forma de pensar ou estabelecer relações.

3. Como você vê as oportunidades de crescimento profissional da área?

Como profissional de recursos hídricos podemos atuar em diversas áreas relacionadas, por exemplo, à oferta e demanda, gestão de uso, preservação dos recursos naturais, manejo de águas pluviais, entre outros. A girada de chave acontece quando o crescimento tecnológico e humano gera não só o aumento da necessidade de uso desse recurso, mas também o manejo correto e sustentável a fim de evitar os prejuízos a sua manutenção e o meio ambiente. Frente a esse desafio, a demanda por profissionais responsáveis e de qualidade abre as portas para oportunidades.

4. Qual dica você daria para um jovem entusiasta que está decidido a fazer a diferença na área de recursos hídricos?

Acredito que o conhecimento é a base para fazer a diferença naquilo que se almeja. Então indico que se dedique a conhecer a área, a importância e responsabilidade do papel do profissional de recursos hídricos exerce na sociedade. Isso permitirá que haja identificação e entusiasmo com aquilo que se deseja alcançar. Com essas duas pedras preciosas no bolso, é possível então ousar e se permitir enfrentar os desafios que são tão comuns à área. Nunca se é possível saber de tudo, por isso, manter -se atualizado e pronto para aprender e ouvir é essencial na construção de um bom caminho e de um diferencial. Com tudo isso, é possível unir as suas habilidades com o seu conhecimento e fazer o que ainda não foi feito e fazer o que já é feito com excelência e precisão.

Dicas de Carreira para Jovens Entusiastas da Área de Recursos Hídricos

Convidada: Alinne Mizukawa

1. Cite 2 habilidades técnicas e 2 habilidades interpessoais que considera importante para trabalhar com gestão de recursos hídricos.

Um bom profissional, não apenas da área de recursos hídricos, deve ter flexibilidade e resiliência. Pensando no nosso cenário atual de recursos hídricos e frente às mudanças climáticas, ser adaptável é uma característica primordial. Saber se ajustar a novas situações, estar disposto a discutir e aprender novas metodologias, são essenciais para nos ajustarmos a novas conjunturas, visto as mudanças rotineiras em que vivemos atualmente. Já a resiliência permite que o profissional não só aceite as mudanças, mas que também apresente inteligência emocional para lidar com os desafios técnicos, prazos e principalmente pressão do nosso dia a dia.

Além do mais é ter é pensamento crítico e sensibilidade analítica. A gestão de recursos hídricos não é um livro de receita a ser seguido, cada bacia hidrográfica, cada série histórica de precipitação é única e deve ser avaliada para que ações específicas e certeiras sejam propostas e executadas.

Como habilidade interpessoal é necessário saber trabalhar em equipe. Grande parte dos desafios de um profissional de Recursos Hídricos estão interrelacionados com outros profissionais tais como geógrafos, geólogos, biólogos, comunicadores sociais, entre diversos outros. Saber trabalhar em equipe, conseguir se expor e comunicar com profissionais de diferentes formações é imprescindível para que os projetos de recursos hídricos sejam destinados com maestria a sua finalidade.
Por último devemos ser criativos, pensar “fora da casinha”. Como citei anteriormente, não existe uma receita pronta para as questões relacionadas aos recursos hídricos. Muitas soluções ainda não foram desenvolvidas e nem sempre a melhor solução existente se aplica a todas as realidades. Sendo assim, seja criativo!

2. Quais são as estratégias mais eficazes para desenvolver um bom networking?

Primeiro passo é ainda na academia, iniciação científica e projetos de extensão podem ser os primeiros contatos para entrar no mundo dos Recursos Hídricos. Realizar estágios também irão te guiar a qual área te interessa mais, até porque temos uma área bem grande de atuação para o profissional de Recursos Hídricos.

3. Como você vê as oportunidades de crescimento profissional da área?

Os desafios das mudanças climáticas estão cada vez mais evidentes e abrem portas aos profissionais de recursos hídricos, desde trabalho com gestão e planejamento, como planos de bacias hidrográficas, até a segurança hídrica e infraestrutura hidráulica.

O mercado demanda profissionais capacitados, assim tenha em mente que o profissional de recursos hídricos deve estar em constante evolução.

4. Qual dica você daria para um jovem entusiasta que está decidido a fazer a diferença na área de recursos hídricos?

Não pare de estudar! Pense em seguir com uma pós-graduação na área, isso irá ajudar a se especializar ainda mais na área. Esteja envolvido em grupos de discussões, pois como dito anteriormente, é uma ciência que está em constante evolução. E por último, não menos importante, siga a evolução das legislações e as boas práticas internacionais e nacionais.

Quais as responsabilidades de um coordenador de Comissão Técnica?

Convidada: Lais Ferrer Amorim de Oliveira

1. Qual é a importância da comissão técnica da ABRHidro na gestão de recursos hídricos no Brasil?

Quanto mais eu participo e me envolvo nas atividades da ABRHidro, mais claro vai se tornando o papel da associação na gestão de recursos hídricos no Brasil, possibilitando que nós da CT de Limnologia e Mecânica dos Fluidos enxerguemos também a nosso papel para contribuir com as ações da associação.
Eu entendo que a ABRHidro tem atuação na formação, promovendo troca de experiências e literatura para a comunidade técnica, na legislação, uma vez que reúne pessoal capacitado a nível nacional, é seu papel também zelar pela conformidade, atualidade e eficácia das leis e normas que regem o tema, e existe também a atuação nas ações de gestão de recursos hídricos executadas por seus membros.

A associação também tem um papel de acolher e promover espaço de diálogo, as comissões técnicas são essenciais neste sentido, pois possibilitam que o técnico encontre o seu lugar dentro da comunidade da associação e possa atuar de forma efetiva para as ações de melhoria da gestão de recursos hídricos.

A nossa CT especificamente atua nas discussões sobre gestão de reservatórios e rios, com viés atrelado a modelagem matemática hidrodinâmica e de qualidade da água. Desta forma, esperamos contribuir com a formação dos nossos membros, da sociedade e gestores, discutindo atualidades, metodologias, particularidades e dificuldades destes ambientes e ferramentas.

2. Diga um aspecto positivo e um desafio de ser coordenador(a) de uma comissão técnica.

Um aspecto positivo é que agora tenho sempre colegas com quem dialogar e dividir as experiências, seja em eventos ou até mesmo pelo whatsApp. O desafio é conseguir conciliar o tempo disponível com todas as atividades que temos vontade de promover dentro da CT, sempre pensando em manter o pessoal engajado e participando ativamente.

3. Quais suas expectativas para o biênio 24/25 na sua comissão?

Nossa maior expectativa é a realização do primeiro evento em que a CT está integrada à comissão de organização, que é o FLUHIDROS II. Esperamos que o evento seja um sucesso e que tenha ampla participação dos nossos membros. Também esperamos poder promover a publicação de trabalhos que surjam em decorrência de colaborações entre membros da CT.

Quais as responsabilidades de um coordenador de Comissão Técnica?

Convidado: Ewerthon Cezar Schiavo Bernardi

1. Poderia iniciar falando sua opinião sobre a importância da comissão técnica da ABRHidro na gestão de recursos hídricos no Brasil?

As Comissões Técnicas da ABRHidro constituem espaços de reunião de profissionais e pesquisadores, promovem debates e geram discussões sobre recursos hídricos e áreas correlatas. Entendo que estes espaços impulsionam o desenvolvimento do conhecimento em recursos hídricos, e, consequentemente na gestão dos usos da água.

Na minha visão, ambientes de discussão e cooperação profissional são pontos de partida para a gestão dos recursos hídricos, por permitirem a troca de saberes entre técnicos, estudantes e sociedade. Debates com diferentes pontos de vista permitem ampliar nossa visão sobre o assunto, bem como compreender as necessidades e os problemas de outras realidades.

2. Diga um aspecto positivo e um desafio de ser coordenador(a) de uma comissão técnica.

Aspectos Positivo: perceber o desenvolvimento coletivo e individual dos integrantes, bem como estar inserido em todos os projetos desenvolvidos na CT.

Desafio: conseguir: organizar o grupo de modo que todos sejam ouvidos e atendidos em todos seus anseios.

3. Quais suas expectativas para o biênio 24/25 na sua comissão?

Minhas expectativas para o biênio 24/25 da CT Jovem são as melhores possíveis. Acredito que a equipe tem grande potencial para alcançar seus objetivos como organizar palestras, eventos, cursos e promover debates, de modo a dar destaque aos jovens em início de carreira em Recursos Hídricos. Além disso, a CT Jovem pretende aumentar o alcance de suas ações por intermédio de redes sociais e participação de eventos, assim como documentar suas atividades por meio de publicações.

Quais as responsabilidades de um coordenador de Comissão Técnica?

Convidado: Dirceu Silveira Reis Junior

1. Qual é a importância da comissão técnica da ABRHidro na gestão de recursos hídricos no Brasil?

Confesso que fiquei na dúvida se a questão se refere à Comissão a qual eu coordeno ou às comissões de uma forma geral. Vou responder como se a pergunta fosse específica para a Comissão Técnica de Hidrologia Estatística, mas faço questão de dizer algumas palavras sobre a importância das comissões de uma maneira geral.

Um dos objetivos de qualquer associação profissional é o de promover discussões sobre diversos aspectos referentes ao tema central da associação. No caso da ABRHidro, o tema central é a água, e por ser um tema bastante transversal, afetando diversos setores da sociedade, merece ser visto e discutido sob as mais diferentes óticas. Para que essas discussões tenham profundidade e sejam relevantes para o avanço da gestão dos recursos hídricos do país, nada mais natural do que criar ambientes distintos, com temas específicos, porém abertos a todos que queriam participar. A esses ambientes, damos o nome de Comissões Técnicas. Com o passar do tempo, as Comissões Técnicas foram ganhando importância, e os temas aí discutidos, com suas respectivas propostas de ação, acabam chegando ao todo da comunidade, trazendo benefícios vários. Vale mencionar, por exemplo, o recente papel atribuído às Comissões no desenho das Sessões Técnicas do último Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, processo esse que já havia sido iniciado em outras versões do evento, mas que se apresentou bastante maduro em 2023. A meu ver, essa decisão foi bastante acertada, tendo estimulado a criação e o desenvolvimento de grupos profissionais e de pesquisa nos referidos temas, o que permite um avanço mais rápido na elaboração de soluções mais robustas para os nossos problemas facilitando o processo de implementação das mesmas.

O que dizer então para o caso específico da Comissão Técnica de Hidrologia Estatística? A área gestão de recursos hídricos, bem como as ciências nas quais a gestão se baseia, como por exemplo a Hidrologia, sempre fizeram uso de métodos estatísticos em suas atividades, seja para o entendimento, descrição ou previsão de fenômenos naturais, bem como na elaboração de procedimentos para tomada de decisão em situações em que as incertezas não podem/devem ser desprezadas. Os exemplos são inúmeros: análise de frequência e previsão de eventos extremos; regionalização de vazões e geração de séries em locais com pouco ou nenhum monitoramento; análises de séries temporais; modelagem hidrológica e climática baseadas em dados; análise de incertezas em modelos de sistemas ambientais, incluindo os modelos hidrológicos e de qualidade de água; análises de tendências, ciclos de longo prazo e mudanças bruscas de comportamento no contexto de alterações do clima, mudanças uso do solo e uso dos recursos hídricos, dentre outros.

Parece-me inegável o papel da Hidrologia Estatística nas mais diversas áreas do que chamamos de gestão dos recursos hídricos. Embora sejam evidentes os avanços na área de hidrologia estatística, com o desenvolvimento de um conjunto enorme de técnicas, muitas vezes sofisticadas para modelar e descrever os mais diversos fenômenos associados aos recursos hídricos, incluindo aí os avanços no uso da estatística para tomada de decisão, um assunto de extrema relevância, mas ainda pouco explorado e compreendido, observa-se uma dificuldade dos membros da comunidade no processo de análise e interpretação estatística, sobretudo na aplicação de diversas ferramentas, como testes de significância, análise de incertezas de modelos matemáticos, dentre outros gargalos.

Creio que a CT de Hidrologia Estatística pode e deve trabalhar para que esse quadro se reverta para que tenhamos uma comunidade mais amadurecida para essas questões de cunho estatístico, que embora não sejam, na maioria dos casos, a questão central de um problema ligado aos recursos hídricos, se não forem adequadamente tratadas podem levar a decisões equivocadas com sérios prejuízos para a sociedade. 

Quem tiver interesse de como a CT pretende fazer isso, basta dar uma olhada no hotsite da CT na página da ABRHidro. 

2. Diga um aspecto positivo e um desafio de ser coordenador(a) de uma comissão técnica.

São vários os aspectos positivos, mas vou enfatizar o privilégio de poder colaborar com tantos profissionais de alto nível em torno de um tema que eu gosto tanto. Só de pensar na oportunidade de trocar ideias e conhecimento, não apenas com os mais experientes, mas também com os mais jovens, me anima bastante. Ter a chance de construir algo relevante de forma conjunta com vários membros da comunidade é com certeza o que mais me animou no momento de aceitar a responsabilidade de coordenar a CT.

Os desafios também são muitos. Mas o meu foco no momento, além das atividades que já estão sendo realizadas, é o de construir um ambiente acolhedor para que os membros da Comissão, que são normalmente bastante atarefados, se sintam à vontade não apenas para contribuir com as atividades sugeridas por mim ou pelo Pedro Chaffé, o Coordenador Adjunto, mas também para promoverem a discussão de novos assuntos, identificarem novos caminhos a serem trilhados e sugerirem a colaboração com outras Comissões ou com outras instituições relacionadas com os recursos hídricos.

3. Quais suas expectativas para o biênio 24/25 na sua comissão?

As expectativas são as melhores possíveis. Mas em primeiro lugar, creio que o mais importante seja colocar energia na construção dessa comunidade recém-criada, estabelecer um ambiente agradável de colaboração contínua entre os membros, mas sempre atentos a possíveis colaborações com membros de outras CTs, já que estatística não é um fim em si mesmo, mas um meio que me parece importante para a nossa comunidade.

Dito isso, vale a pena mencionar a organização de um evento conjunto entre a IAHS e ABRHidro, por meio da CT de Hidrologia Estatística, que será realizado em novembro de 2024 em Floripa. Teremos três eventos em um, incluindo o 9th International Symposium on Integrated Water Resources Management (IWRM), 14th International Workshop on Statistical Hydrology (STAHY), e o 1st Brazilian Meeting on Statistical Hydrology (EBHE).

Além da organização desses eventos, e dando continuidade às atividades de capacitação que se iniciaram durante o SBRH 2023 com a oferta de um Mini-curso em programção em R, a CT Hidrologia Estatística, em parceira com o Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG, acabou de ofertar um curso presencial no mês de maio sobre Programação em R em Hidrologia Estatística. 

Outas atividades estão sendo planejadas em conjunto com outras CTs, como por exemplo a CT Jovem e a CT Energia. Tenho certeza de que teremos bons frutos com essas colaborações.

Aprendizados de um Estágio em Barragens no Canadá

Convidada: Beatriz Tiemi Kawano

1. Como você conseguiu o estágio em barragens no Canadá e qual era seu principal
objetivo?

Descobri sobre esse estágio em pesquisa através do meu orientador na faculdade, Cristovão Fernandes. A inscrição inicial contava com preenchimento de informações e envio de alguns documentos, como por exemplo, histórico escolar, currículo e carta de recomendação, além da seleção das pesquisas nas quais teria interesse de participar e ordená-las. Depois dessa etapa, caso você seja selecionado, você pode ou não ser chamado para entrevistas. Nessa etapa eu fui chamada para quatro entrevistas em províncias diferentes, as quais cheguei a participar, mas resolvi seguir com minha ordem de preferência, e assim fui selecionada para o estágio de pesquisa em Impactos em rompimentos de barragens na supervisão do Professor Mauricio Dziedzic, na University of Northern British Columbia (UNBC), em Prince George, British Columbia, Canadá. Meu principal objetivo na pesquisa era estudar a base teórica de simulações de rompimentos de barragens, aprender a utilizar o HEC-RAS, apresentar suas limitações e comparar com outros softwares disponíveis. Essa pesquisa acabou evoluindo para o meu Trabalho Final de Curso após meu retorno do Canadá, o qual apresentei sobre o mesmo tema, mas focando em análises de sensibilidade em simulações 2D.

2. Quais foram os principais aprendizados técnicos que você adquiriu durante o estágio?

O principal aprendizado técnico que adquiri durante o estágio foi me aprofundar nas simulações de rompimentos de barragens no HEC-RAS e suas funcionalidades. Além disso, a criação de uma base de dados de artigos também agregou para o meu conhecimento técnico sobre o assunto. Ainda, no final do estágio, participamos de um pequeno seminário onde todos os estagiários da MITACS que ainda estavam na universidade, tiveram a oportunidade de compartilhar sua
pesquisa desenvolvida durante o estágio.

3. Qual a importância de experiências internacionais como essa para jovens profissionais e jovens pesquisadores?

Ter a possibilidade de trabalhar na área de pesquisa em um local onde não possui sua língua nativa já é um desafio, acredito que essa experiência agrega muito para nossa vida acadêmica e profissional, nos dando uma visão mais ampla das áreas da pesquisa, conhecer o que outros pesquisadores estão fazendo pelo mundo, e fazendo que a gente possa sair um pouco da nossa zona de conforto e encarar novos desafios. A troca de experiências com outras culturas também contribui para nosso crescimento pessoal. Durante o período que estive no Canadá para o estágio, tive a oportunidade de conhecer pessoas dos mais diferentes países, o que tornou a experiência como um todo, ainda melhor.

4. Como você aplicou os conhecimentos adquiridos no Canadá em sua carreira ou estudos?

Assim como mencionei anteriormente, acabei engatando a pesquisa realizada no Canadá com o meu Trabalho Final de Curso, com o tema “Impacts of Dam Breaks: a sensitivity analysis of two-dimensional simulations” o qual foi escrito e apresentado em inglês e aprovado com nota máxima. Em minha carreira como estagiária de engenharia na COBRAPE, eu trabalho na parte
de Recursos Hídricos, e todo conhecimento que adquiri durante os meses de estágio no Canadá, me auxiliam a ser uma profissional melhor.

5. Que conselho você daria para alguém buscando um estágio internacional em recursos
hídricos?

Aceite novos desafios e acredite em você. Eu tentei mais de uma vez em estágios internacionais antes de conseguir esse da parceria entre a MITACS e a Fundação Araucária. O Canadá é um lugar ótimo para quem gostaria de um estágio em recursos hídricos, existem diversas pesquisas na área e que podem complementar muito em sua formação. Acho que o conselho mais importante que tenho é não desistir quando as coisas parecerem difíceis, porque uma vez que você a alcançar, vai ser incrível. Essa experiência tem muito a somar e ainda vai te abrir muitas portas no futuro.

CT Jovem: Trajetórias Transformadas

 Convidada: Thais Fujita

 1.  Como você descobriu a CT Jovem e o que motivou sua participação?

Foi através de um amigo, o Dimaghi. Na época ele comentou sobre a organização da CT Jovem e como estavam planejando as Hidrotalks. Me interessei pelo desafio em ajudar e entrei para a coordenação 2022/2023. O que me motivou foi poder trabalhar com pessoas com formação e regiões diferentes com um interesse em comum: os recursos hídricos.

 2.  De que maneira a CT Jovem influenciou seu caminho acadêmico e profissional?

No caminho acadêmico, fazer parte da CT Jovem me aproximou da associação, essa participação ativa me colocou em contato com diversas pessoas da área, colegas de doutorado, professores e pessoas influentes na área. Por me manter associada por todos esses anos também me garantiu a indicação ao prêmio Jovem Pesquisador. Tal indicação com certeza é um reconhecimento do trabalho que desenvolvo, mas que também motivou muito.

Profissionalmente, ganhei uma nova perspectiva de trabalho coletivo: com resultados imediatos. Desde lições e discussões enriquecedoras que foram tratadas em nossas reuniões de coordenação, efeitos de posts feitos em redes sociais, e a abertura com pessoas dispostas a falar sobre o tema que dedicaram toda a vida.

Cada subcoordenador da CT, e nossa coordenadora, trabalharam de forma exemplar. E penso que aprendi muito com cada um deles. 

3.  Pode compartilhar uma experiência marcante que vivenciou através da CT Jovem?

No XXV ENCOB, a ABRHidro pôde pagar a ida de um membro da CT Jovem para uma Estação. E a Alondra foi escolhida, nossa coordenadora 2022/2023. Antes dela ir, fizemos um brainstorm sobre a temática da Estação, e deixávamos escrito em um arquivo no Drive. 

E, conforme os papéis atribuídos à ela iam mudando - hora como moderadora, depois como palestrante,, esse documento foi crescendo e mudando de cara. Isso já foi uma experiência muito legal.

Quando chegou o dia, a estação inicial foi unida à uma segunda e ficou com o tema: (Edu)comunicação, juventude e mobilização social. E a Alondra, mais uma vez, se ajustou. 

Ainda que não estivéssemos todos lá, a mobilização do grupo foi incrível. E a participação da Alondra foi espetacular. Aprendi sobre a fluidez de se adaptar.

Tem mais um:

Adorei participar do projeto “Fala Jovem”, ele foi uma daquelas ideias que foi imediatamente aceita em uma de nossas reuniões, uma proposta simples, seguida de um formulário, receber as informações, criar a arte e divulgação – tudo muito bem coordenado. E que deu visibilidade para as pessoas que participaram dessa chamada, mas que também muitos assuntos para discutir durante o Simpósio. Um aspecto muito interessante é que muitos dos que participaram, hoje compõe a nova coordenação. 

 4.  Como você vê o impacto da CT Jovem na comunidade de recursos hídricos?

A CT Jovem é a Comissão Técnica da ABRHidro com maior transdisciplinaridade. É basicamente a comissão que melhor pode transitar entre as outras CTs.

Perante a comunidade de recursos hídricos, a CT Jovem, é a representação da capacidade de organização e mobilização da nova geração de profissionais de recursos hídricos. E essa representatividade é dinâmica porque é sujeita à renovação, e para mim a CT Jovem foi esse espaço de referência, onde pude me encontrar com as pessoas da minha geração, e que posso e poderei me encontrar com as futuras gerações que estão em formação. 

5.  Qual conselho você daria para jovens interessados em participar da CT Jovem?

A participação na CT Jovem é uma atividade enriquecedora. É um ambiente que segue o ritmo dado pela própria coordenação da CT Jovem e que tem autonomia suficiente para executar atividades do ponto focal. 

Sinceramente, quando o trabalho voluntário funciona, é muito gratificante. O que soma é que a CT Jovem é amparada pela comunidade de profissionais e associados da ABRHidro.  

 

A ABRHidro é uma instituição que tem por finalidade congregar pessoas físicas e jurídicas ligadas ao Planejamento e à Gestão de Recursos Hídricos no Brasil. Saiba mais

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